Como a coluna já observou, a maior mudança para o Brasil com a eventual confirmação da vitória de Joe Biden para a Presidência dos Estados Unidos será na questão ambiental. Esse é um consenso entre economistas, diplomatas e especialistas em risco político.
Apesar das dúvidas que cercam a disposição de Donald Trump, de transformar uma eventual derrota em batalha jurídica, começam a ser feitas projeções de um mundo com Biden no comando dos EUA.
A questão ambiental é a única em que o Brasil deve assumir alguma prioridade na política externa dos Estados Unidos em um eventual governo Biden. Emboras diplomatas como Rubens Barbosa, que já foi embaixador do Brasil em Washington, temem que a pressão democrata provoque isolamento do Brasil, especialmente se a estratégia brasileira de preservação não mudar, esse não é um diagnóstico unânime.
Christopher Garman, diretor-executivo para as Américas da Eurasia Group, pondera que a longa experiência de Biden com relações exteriores deve evitar situações extremas, até porque os EUA precisam do apoio do Brasil em fóruns internacionais como a COP 26, adiada deste mês para novembro de 2021. Em live, Garman previu "tensionamento" nas relações bilaterais nesta área, mas considerou improváveis sanções econômicas severas, como as impostas a China, Irã, Cuba e outros países identificados como adversários pelos EUA.
– A grande repercussão será na pauta ambiental, o resto será secundário – avalia o diretor da Eurasia.
Entre as "consequências econômicas significativas" ameaçadas por Biden caso o desmatamento na Amazônia não pare, Garman interpreta que pode haver "graduações". Uma hipótese, se os índices piorarem em 2021, seria impor tarifas sobre produtos brasileiros sob a alegação de contribuição negativa para ambiente, caso o Brasil continue sendo visto como o principal vilão da natureza.
– É um vendaval que pode ganhar ímpeto, e o Brasil pode pagar custo econômico maior do que nos últimos anos – projeta.
Além de relações mais crispadas, o especialista identifica uma oportunidade: com vitória democrata, os americanos devem retornar ao Acordo de Paris. Caso isso ocorra, negociações para criação do mercado de carbono podem ser destravadas, beneficiando o Brasil, inclusive gerando recursos para preservar a Amazônia.
Assim como Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil, Garman não vê risco para os acordos feitos recentemente entre os dois países, até por terem alcance modesto. Garman lembra que Biden foi presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado por muitos anos e como vice-presidente de Barack Obama foi responsável pela conexão com a América Latina. Portanto, conhece bem o Brasil e tem experiência e conhecimento de negociador.
Outra característica das atuais relações bilaterais que não deve mudar é a pressão dos EUA contra a China, e especificamente contra a adoção da tecnologia da Huawei no 5G. Garman afirma que Biden deve manter a estratégia porque a disputa entre as duas maiores potências só deve aumentar:
– A relação será mais fria, com uma agenda bilateral não tão promissora, porque as cenouras que Biden pode oferecer são menores do que as de Trump, mas a política americana sobre telecomunicações continua a mesma em um governo Biden.