Símbolo de acesso privilegiado a grandes empresas e setores "escolhidos", o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou nesta quinta-feira uma das maiores guinadas em sua política de financiamento. Claro, falta a implantação, mas será um BNDES com mais "S" e menos "E", sintonizado com as melhores e mais modernas práticas corporativas.
Como resultado de estudos de mais de seis meses, desde que a atual diretoria assumiu a instituição, o banco muda seu foco setorial (vertical) por avaliação conforme o tipo de projeto (horizontal), valorizando inovação, educação, saúde, micro, pequenas e médias empresas, ambiente e exportação. Uma exceção será a infraestrutura, muito dependente do financiamento a longo prazo do banco.
– Estamos fazendo uma transição bastante forte – foi avisando a presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos Marques, para logo depois admitir que a mudança é "profunda".
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Foi quase um eufemismo nos dois casos. Uma das primeiras explicações sobre os novos critérios é a seguinte: "maior retorno social do que retorno privado". A presidente do BNDES também confirmou informações que vinham sendo especuladas: empresas que se financiarem com 50% ou mais de TJLP terão restrição maior do que legal na distribuição de dividendos, ou seja, reduz a apropriação dos acionistas dos resultados do projeto apoiado com recursos públicos. É uma guinada para a instituição que se tornou a maior financiadora da chamada "bolsa-empresário". Não fosse Maria Silvia, seria "acusada" de socialista.
Outra mudança drástica reiterada pela presidente do banco é a ênfase no financiamento de projetos ambientalmente limpos:
– O BNDES não financia mais térmicas a carvão – lembrou sua presidente, depois de ter sofrido pressão para revisar a regra anunciada em setembro do ano passado.
Os projetos "limpos", explicou Maria Silvia, terão maior percentual de TJLP, o juro mais barato do país. A cereja do bolo de reformas drásticas no BNDES envolve outro alvo de críticas: a dificuldade de acesso. Ainda não está definido em detalhes, mas Maria Silvia prometeu que linhas como Finame serão em breve distribuídas por fintechs, startups financeiras, mais ágeis e simplificadas do que bancos.
Nesse momento delicado que as empresas brasileiras atravessam, muitas afogadas em dívidas e com dificuldades de caixa, o BNDES passará a liberar recursos para capital de giro a partir de R$ 10 milhões sem intermediação de outras instituições financeiras. A liberação direta reduz o custo do empréstimo, porque elimina o spread do repassador.
– Nossa ênfase em capital de giro, nesse momento, não é para estimular a economia, é para preservar a economia, nesse momento em que as empresas estão extremamente alavancadas (endividadas) – disse Maria Silvia.