Não deve ser o diagnóstico da supertempestade o principal assunto do poder público nos próximos dias. Com dois fenômenos climáticos fora do normal em três meses, está na hora de encarar a nova normalidade: como advertem os especialistas há anos, episódios graves terão mais frequência e intensidade. É preciso atualizar o discurso “não há prevenção nem plano de contingência pronto para responder a eventos assim porque são raros” e a prática de planejar a resposta depois da devastação.
Porto Alegre responde por 20% do faturamento do comércio no Estado, lembra Vilson Noer, presidente da Associação Gaúcha para o Desenvolvimento do Varejo (AGV). Do litoral, onde se refugiou da falta de água em casa, Noer observava que ainda é difícil projetar os prejuízos do temporal porque um dos reflexos ainda é imponderável: depois de encarar o cenário de destruição, combinado a eventuais prejuízos individuais – da perda de produtos por falta de refrigeração a necessidade de consertos –, a população terá moderado apetite por consumo.
Presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL-PoA), Alcides Debus, está preocupado com o movimento da primeira quinzena de fevereiro, entre o efeito do temporal, o feriado de amanhã e o Carnaval. Debus passou o final de semana cuidando dos reparos em uma de suas lojas (Rabusch) na Avenida Protásio Alves. Prevê que as obras vão demorar ao menos 10 dias. É um problema específico, mas que ilustra o impacto provocado pelo “furacão” – entre aspas por falta de comprovação científica, mas o termo que melhor descreve o que ocorreu na sexta-feira.
No Praia de Belas, os relatos de quem viu os estragos eram de que parecia a queda de um meteorito no local. Otimista, a direção chegou a anunciar a reabertura no domingo, mas ontem informava que não voltará ao normal hoje, e não sabe se poderá retomar atividades amanhã. O incidente foi tão grave que trouxe a Porto Alegre o vice-presidente do Iguatemi, empresa responsável pelo empreendimento. Dá uma ideia da dimensão da preocupação.