O primeiro longo prazo da economia brasileira em 2016 é de 11 dias: será o tempo da especulação sobre como o Banco Central traduzirá em decisão as declarações de seu presidente, Alexandre Tombini, na carta em que justifica o estouro de 4,17 pontos na meta de inflação. Divulgado na sexta-feira, menos de 12 horas depois do anúncio oficial do resultado do IPCA, o texto teve uma primeira leitura óbvia: o BC terá de elevar o juro, na reunião dos dias 19 e 20.
Se Tombini não admite fechar outro ano com a inflação acima de 6,5%, como indicou, não terá alternativa senão elevar a taxa. Até porque ajuda da política fiscal, como sempre, não haverá. O presidente do BC até menciona o cenário ''desinflacionário'' de 2016 em comparação a 2015, ano de realinhamento de preços e pressão cambial. Não se esperam reajustes de mais de 50% na energia nem nova desvalorização de quase 50% do real em 2016.
Mas... a especulação que dominou a semana passada foi confirmada pelo ministro Nelson Barbosa, em entrevista à Folha de S.Paulo. O governo pretende aproveitar a ''liquidez'' dos bancos públicos para elevar a oferta de crédito. Diz Barbosa: ''E há uma liquidez nos agentes financeiros públicos e no FGTS que pode ser utilizada para expandir o crédito em atividades prioritárias, como infraestrutura, habitação, saneamento e capital de giro de pequena e média empresa. É o que vamos fazer.''
E as medidas devem ser anunciadas ''no início de fevereiro''. Possivelmente depois do Carnaval, a pouco mais de 30 noites – o segundo longo prazo no país. Essa repentina disponibilidade de recursos, no momento em que o país encara gigadéficit e dívida pública em expansão, deve-se a recursos recebidos a título de quitação das ''pedaladas''. Barbosa ainda confirmou que seu objetivo é ''estabilizar o nível de atividade econômica'', ou seja, travar a queda do PIB. Mas a alta do juro terá efeito recessivo. Então, este é o desafio do reequilíbrio: segurar a inflação sem aprofundar a queda, despedalar e evitar o agravamento da recessão sem repovoar os cofres de esqueletos.