Deixem a China dormir, porque ao acordar, o mundo estremecerá. A frase é atribuída a Napoleão Bonaparte, embora sem registro. De todo modo, o dragão adormecido despertou faz tempo e desafinou o coro dos contentes.
Nos anos 70, meu tio avô Argemiro Flores, alertava contra os chineses. Contracorrente, dizia que o problema não eram os russos, pois eram brancos e cristãos. O perigo seriam os orientais.
Semanas atrás, quando uma empresa chinesa apresentou o DeepSeek, ferramenta de Inteligência Artificial, o sucesso dela lembrou o efeito sputnik. A alusão refere-se à corrida espacial durante a Guerra Fria. Sputnik foi o primeiro satélite posto em órbita, colocando a Rússia simbolicamente à frente dos EUA. Temos a impressão que a China ligou o pisca-pisca, sinalizando que na tecnologia vai ultrapassar.
Recentemente a China mostrou que está na dianteira da tecnologia de fusão nuclear. Os produtos futuristas, a la Jetsons, como carros voadores, estão prestes a ser comercializados. Eles lideram no campo de trens de alta velocidade e metrôs suspensos. Temos notícias de obras de engenharia titânicas. Existem razões para crer que seu armamento acompanha o ritmo das outras áreas. Um pouco é propaganda, mas isso vale para os dois lados.
Não se trata apenas da briga comercial com os EUA, o poder do Atlântico Norte, Europa e América do Norte, corre o risco de ser menor do que o do oceano Índico. Seria uma mudança no eixo comercial, político e cultural do planeta.
Por propaganda política ideológica, recheada de racismo, temos na cabeça que a China não inventa, só copia os produtos ocidentais. Como se a imaginação criadora tecnológica fosse um monopólio ocidental. Porém, os fatos apontam outra realidade.
Não tenho entusiasmo pelo modelo político despótico da China. Mas como fica o mantra sobre a ineficiência da economia planejada?
A verdadeira questão é o medo, como o do meu tio Argemiro, de um mundo onde os homens brancos cristãos podem ser secundários. Onde o eurocentrismo cultural será questionado. Onde o cristianismo pode deixar de balizar a moral.
Enquanto isso, a China está quieta. Quem tem poder joga xadrez, quem vê o seu desfazendo-se, joga truco.