A situação é grave e não tem volta. Ou a dupla Gre-Nal começa a pensar no seu melhor modelo de SAF, ou festejar um grande título será muito difícil. E antes que o torcedor mais tradicional abandone a leitura, peço que espere mais algumas frases. Porque pensar o melhor modelo não significa vender tudo para algum bilionário árabe ou um mafioso russo. A lei permite que as empresas sejam diferentes e as SAFs que já existem mostram esta variedade. A SAF do Bahia é diferente da SAF do Botafogo que é diferente do Red Bull Bragantino que é diferente da SAF do Cruzeiro. O Rio Grande tem mentes brilhantes nos dois gigantes e tenho certeza que é possível a escolha do modelo ideal azul e vermelho. A urgência está aí e o quadro só vai piorar. É preciso achar um "dinheiro novo".
O Flamengo, que não é SAF, é rico porque se organizou depois de anos e anos de bagunça. O time da Gávea é cinco vezes maior que a dupla Gre-Nal no mercado publicitário. Ele vende tudo mais caro e fatura três vezes mais que a dupla com os direitos de transmissão e isso não vai mudar. O tamanho da maior torcida do Brasil garante esses números e vantagens. O Palmeiras, que também não é SAF, teve um bilionário como presidente que emprestou dinheiro ao clube, sem juros, e remontou as categorias de base, fez um centro de treinamento com hotel cinco estrelas e comprou equipamentos médicos para exames de rotina que agora são feitos sem ninguém sair do CT. Para melhorar, a atual presidente é dona das empresas que patrocinam o clube por um preço que ela admite ser maior que o de mercado. A dupla Gre-nal tem 40 milhões de torcedores? A dupla tem presidentes bilionários com o mesmo apetite para ajudar do Paulo Nobre e da Leila Pereira?
A classificação do Brasileirão 2024 não mente. Dos 10 primeiros colocados, seis são modelos de SAF (Botafogo, Fortaleza, Cruzeiro, Bahia, Vasco e Atlético-MG). O Fortaleza, vice-líder, talvez tenha o modelo que se encaixe melhor no jeito gaúcho de enxergar o mundo. O time cearense não vai entregar a maioria de suas ações para uma empresa ou pessoa. O poder final nas decisões será sempre do Fortaleza e uma porcentagem das ações será vendida para os sócios. O presidente Marcelo Paz, responsável pela organização do clube nos últimos anos, é o CEO da "SAF da torcida".
Eu sei que você deve estar pensando: mas se as nossas administrações forem melhores e nossas categorias de base revelarem um Cebolinha e um Pato por ano tudo vai melhorar, não? Vai, claro! Mas o Flamengo vai seguir cinco vezes maior no mercado publicitário e recebendo três vezes mais por direitos de transmissão. Na janela de transferências que se fechou agora há pouco, o Botafogo gastou 233 milhões, o Cruzeiro 176 milhões e o Flamengo 133 milhões. O Grêmio gastou 53 milhões e o Inter 51 milhões. Difícil competir, né?
Por essas e outras, tenho certeza que você percebeu os dois pontos principais: nem toda a SAF é bicho-papão e precisamos de "dinheiro novo". O grande desafio é achar o melhor modelo para os nossos clubes. Grêmio e Inter já deveriam ter comissões estudando o assunto que é para ontem. Sem os maiores patrocinadores e sem o "dinheiro novo" das SAFs, vamos construir o nosso novo lugar ou seguir com nossas velhas certezas?