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O Huachipato foi feito do aço. Mas faz 10 anos que não é mais assim. Aliás, nem aço mais está saindo das usinas da região que leva o nome do time, um dos motores econômicos da região do Biobío, ao sul do Chile.
Por 70 anos, a Companía Acero del Pacífico ("Companhia Siderúrgica do Pacífico", em tradução livre) foi emprego de gerações de chilenos da região. Até que, em março deste ano, as máquinas pararam. Os trabalhos foram suspensos por três meses.
As perdas seguidas devido à entrada do aço chinês no mercado local, a partir de 2008, chegaram a números absurdos em 2023. Uma região inteira está sob risco. São 22 mil empregos, entre diretos e indiretos. O prefeito de Talcahuano estima que, se as portas das siderúrgica se fecharem, US$ 70 milhões anuais deixam de ser injetados na economia local.
Há grande apreensão em Talcahuano e Concepción, a vizinha mais famosa. Se em três meses as máquinas não forem colocadas outra vez em funcionamento pleno, estarão inutilizadas. Não passam incólumes com esse tempo de inatividade, me explica o jornalista Carlos Campos, do diário online SabesDeportes.com. Há um clima de apreensão numa cidade que esteve, nas últimas décadas, conectada com sua empresa siderúrgica.
O Huachipato era parte dessa estrutura até 2014. Tinha sido criado, em 1947, assim como os clubes sociais, como lugar de lazer para os trabalhadores. Porém, com a criação das SADs (as SAFs de lá), passou para as mãos privadas de três empresários de Santiago.
Aos poucos, os torcedores, que costumavam manter média de 10 mil pessoas no Estádio CAP, foram se afastando. Alguns, pela crise financeira na região. A maioria, por perda de vínculo afetivo. Hoje, a média de público fica na casa de 2,5 mil, 3 mil.
A reta final do título chileno de 2023, o terceiro, até animou. Porém, o que era temor virou realidade com o fechamento das empresas, e o futebol virou secundário. Os atuais donos, depois do título, anunciaram disposição de vender o clube. Antes, cumpriram o plano estratégico de separar o futebol do restante, criando uma empresa específica, que cuidará da compra do estádio. Porém, avisaram, não serão eles que executarão esse negócio.
Estima-se que o clube todo valha hoje US$ 6 milhões. Quem chegar com esse valor leva uma das categorias de base mais formadoras do Chile. O negócio do Huachipato é garimpar, lapidar e vender.
O melhor exemplo é Soteldo, buscado com 19 anos na Venezuela, em 2017, e que rendeu ao clube US$ 6,5 millhões, em 2021, quando foi vendido pelo Santos ao Toronto. Aliás, nesta terça-feira (9), Soteldo e Huachipato se reencontram. Mas aquele clube de aço já não existe mais.