Meu pai gostava de contar histórias da sua infância nos anos 1950 e 1960. Quando eu era guri, antes de dormir, ele se sentava na cama e falava dos costumes e de episódios do passado. Brincadeiras, rotina da casa e a escola. Eu ficava impressionado com as histórias do colégio devido à palmatória.
Com uma palmatória, régua ou outro objeto de madeira, o professor acertava os dedos dos alunos que não se comportavam ou não aprendiam direito. A punição física esteve presente nas escolas por muito tempo. Talvez, você viveu este tempo.
Os mais antigos relatam outros castigos em sala de aula, como se ajoelhar sobre milhos ou ficar em pé olhando para a parede. Em pesquisas em jornais e livros, encontrei alguns registros sobre a prática.
Em 7 de agosto de 1886, por exemplo, o jornal A Federação trouxe uma nota sobre caso numa escola de São Jerônimo. O texto é uma reclamação sobre a atitude de uma professora da rede pública que deixava as alunas com as mãos em "miserável estado". Quatro estudantes deixaram a escola em função dos castigos, ficando privadas do ensino.
A pesquisadora Erica Sarlet, falecida em 2019, fez resgate sobre o ensino na escola evangélica de Hamburgo Velho, em Novo Hamburgo. No livro "... Ainda Hoje Plantaria Minha Maciera ..." (Editora Sinodal), citou a ata de uma reunião do colégio em 1917. Muitos reclamavam de professora que impedia a saída das crianças da sala na hora do recreio. As sanções geraram debate, porque "castigos físicos são permitidos em casos de desobediência e atrevimentos, mas, de maneira nenhuma, as crianças devem ser retidas em sala de aula durante o recreio".
Em 1827, lei imperial sobre a criação de escolas determinou que os castigos deveriam ser "praticados pelo método Lancaster". O modelo de ensino do inglês Joseph Lancaster priorizava os castigos morais, o sentimento da vergonha.
A lei estava no papel, mas a realidade de sala de aula foi outra por muito tempo. O fim da palmatória foi um processo gradual, com mudanças na visão da sociedade e avanço na legislação para proteger as crianças.
Quando meu pai contava sobre os castigos na sua época de estudante, eu pensava como era bom não ser mais assim na minha escola.