Eu lembro como se fosse hoje da semana em que soubemos que o câncer da Luíza havia voltado. Era 2020, e ela estava feliz porque havia recém ido ao Planeta Atlântida e ansiosa por começar a faculdade. A esperança era experimentar um mundo novo e poder fazer amigos, finalmente. É que a infância lhe havia sido dura, e os tratamentos contra o primeiro tumor no cérebro a tornaram uma menina diferente, que não teve cabelos e precisava de cuidados, enquanto as demais brincavam como deve ser. Apesar da dura jornada, Luíza venceu, ainda pequenininha. E, anos mais tarde, quando completou 15 anos, fez-se uma festa grande para celebrar essa história.
O meduloblastoma, esse bicho danado que acomete cerca de 30 mil crianças por ano, tem uma taxa de cura que é de 65%, mas cai para míseros 5% quando falamos em recidiva
Em 2020, o cenário foi diferente. A volta do tumor trouxe consigo um dado perturbador sobre nossas cabeças. O meduloblastoma, esse bicho danado que acomete cerca de 30 mil crianças por ano, tem uma taxa de cura que é de 65%, mas cai para míseros 5% quando falamos em recidiva. Ainda assim fomos à luta. E enfrentamos a doença bravamente, com cirurgia, quimioterapia e radioterapia, antes de Luíza nos deixar em julho de 2021.
Pois esse mesmo diagnóstico tenebroso de recidiva chegou à família do empresário Fernando Goldsztein em 2019. Era o filho dele, Frederico, quem havia descoberto um novo tumor no cérebro. O pai, em busca da cura, levou então o filho aos Estados Unidos e soube que o tratamento realizado para esse tipo de tumor era ainda o mesmo criado na década de 1980, sem qualquer avanço ou inovação. Algo ineficiente, tóxico e que deixava sérias sequelas, nas palavras dele.
Goldsztein não se conformou. Buscou junto a um dos maiores especialistas em tumores cerebrais infantis, o médico Roger Packer, dados sobre pesquisas que, se fossem adiante, poderiam levar à tão sonhada cura. Investiu, do próprio bolso, 3 milhões de dólares para começo de conversa. Não se deu por satisfeito. Fundou o MBI, Medulloblastoma Initiative (MBI), uma instituição filantrópica que busca recursos privados para financiar pesquisas e estudos nessa direção.
Tive a sorte de encontrar o Fernando Goldsztein na última semana, no Theatro São Pedro, por ocasião do lançamento do livro do Daniel Scola. E expressei pessoalmente aquilo que deixo também registrado neste texto em Zero Hora. Obrigada, Fernando. Nós, os familiares das crianças que passaram por isso, temos a mesma sensação que tu tens: a cura do meduloblastoma será encontrada. Aquele que salva uma vida salva o mundo inteiro.