De tantas as frases que tentam expressar a importância de lutarmos pelos direitos de mulheres gosto de uma que diz mais ou menos assim: "Nós, mulheres, queremos apenas igualdade. Imagine se buscássemos justiça".
Trata-se de um reducionismo, claro, mas serve como provocação irônica no sentido de que as mulheres apenas querem exercer o direito de ocupar os mesmos espaços que os homens na sociedade e não buscar reparação histórica por uma série de anos em que não puderam fazê-lo.
Cabe lembrar que não faz nem 100 anos que as mulheres conquistaram o voto no Brasil, direito antes exclusivo ao gênero masculino. Ou ainda voltar ao ano de 2002, quando (pasme!) os homens podiam "devolver" suas mulheres caso descobrissem que elas não eram virgens. Tudo conforme a legislação brasileira.
As mulheres que já foram impedidas de votar e que podiam ser "devolvidas" pelos maridos felizmente avançaram, com muita luta, quanto à conquista de direitos básicos e a participação em espaços de poder na sociedade. Em Brasília, por reivindicação das senadoras, elas conseguiram assegurar a participação da bancada feminina na CPI da Covid. Em Tóquio, as mulheres são responsáveis pela conquista de três das quatro medalhas de ouro do Brasil. A judoca Mayra Aguiar conquistou o feito inédito de chegar a três medalhas olímpicas como atleta individual.
— A mulher pode ser o que ela quiser, onde quiser, na hora em que quiser. O tanto que temos recebido de ajuda e igualdade faz diferença nas medalhas do Brasil. Estamos vindo com tudo — celebrou a medalhista de ouro Ana Marcela Cunha, que nadou bravamente para conquistar o ponto mais alto do pódio na noite desta terça-feira (3).
Aqui, cabe um parêntese, por experiência própria. Há quem insista em dizer que as medalhas são conquistadas por mérito e esforço do atleta, independente do gênero (o francês Edgar Morin talvez classificasse a discussão a partir do conceito de moralina). Diante dessa perspectiva, o resgate histórico se faz necessário. As mulheres, por muito tempo, foram proibidas de participar de Olimpíadas e até mesmo de torcer.
No caso do Brasil, as mulheres subiram ao pódio pela primeira vez em 1996, quando num feito histórico quatro brasileiras chegaram à final do vôlei de praia. Na ocasião, Jaqueline e Sandra conquistaram a inédita medalha de ouro feminina, enquanto Adriana e Mônica ficaram com a prata.
É sobre isso que estamos falando.
É preciso assegurar a participação das mulheres em todos — sim, todos — os espaços.
No caso da CPI da Covid, a insistência da senadora Simone Tebet (MDB) foi responsável por desvendar o nome do parlamentar que teria sido citado em reunião com o presidente da República e os irmãos Miranda, na apuração em andamento sobre irregularidades na compra das vacinas Covaxin. Não há como negar que é destacada a presença da bancada feminina que só foi aceita depois de reivindicação por parte das parlamentares.
Por essas razões é que é imprescindível avançar no debate de gênero. Garantir espaço e presença das mulheres, em pleno ano de 2021, parece (e é) uma discussão atrasada. Mas está mais do que na hora de se incomodar com o baixo número de mulheres reitoras, governadoras, deputadas, senadoras juízas ou ministras do Supremo Tribunal Federal. O que estamos fazendo para mudar essa realidade? Como podemos incentivar e garantir a presença feminina em espaços de poder? É urgente que trabalhemos para isto. O pódio é para todas.