A eleição de 2018 ainda vai nos ensinar muita coisa. Mas uma delas emerge nesta sexta-feira (28), quando o Superior Tribunal de Justiça (STJ) afastou o governador do Estado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, por suspeita de comandar organização criminosa que desviou milhares de recursos dos cofres públicos, enquanto o Brasil chora a morte de mais de 100 mil pessoas por coronavírus. Eleito na onda de repulsa das urnas à chamada "velha política", Witzel foi juiz federal durante anos e alçado a chefe do Executivo fluminense por eleitores que acreditaram em sua ladainha de "combate à corrupção".
Eleito, não só não combateu os malfeitos, como ele próprio liderou um esquema no Palácio das Laranjeiras de fazer corar as velhas raposas da política do Rio, inclusos seus antecessores Sérgio Cabral e Anthony Garotinho (que, aliás, foram parar atrás das grades).
Apontam as investigações que Witzel teria usado o escritório de advocacia da esposa, Helena, para receber R$ 500 mil em propinas em contratos fraudulentos na pandemia. O caso é tão grave que a Procuradoria-Geral da República chegou a pedir que ele fosse preso, mas o STJ negou o pedido e determinou um afastamento por 180 dias. Witzel também foi denunciado dentro do esquema de "caixinha de propina".
Conforme a investigação do MPF (Ministério Público Federal), informada em reportagem do portal Uol, o esquema de propina estruturou-se a partir da eleição de Witzel, com uma organização criminosa que era dividida em três grupos e disputava o poder por meio dos pagamentos ilegais. "Os grupos eram liderados por empresários que 'lotearam' algumas das principais pastas estaduais, entre elas a Secretaria de Saúde, para implementar esquemas que beneficiassem suas empresas".
Também foram cumpridos mandados de prisão contra outros integrantes do esquema, entre eles: o presidente do PSC, Pastor Everaldo (preso), o advogado Lucas Tristão e ex-secretário de Desenvolvimento Econômico de Witzel.
A um desatento, caberia perguntar: o que houve com o juiz austero que prometia combater a corrupção? Pasmem, leitores, ele não existe. Nunca existiu.
O caso Witzel nos serve de alerta. É preciso manter vigilância, lógico, sobre as velhas raposas da política. Mas a atenção deve ser redobrada às novas. Elas se vestirão de branco, te prometerão acabar com malfeitos e talvez até batizem nas águas do Rio Jordão. Enquanto você sorri, o dinheiro seguirá escoando pelo ralo podre do poder.