
Ele roubou a cena no South Summit Brasil, em Porto Alegre, na última semana. Foi, de longe, o mais “tietado” do evento. Posou para selfies por onde passou, sorriu e correspondeu aos fãs — uma turma que viveu os primórdios da internet, quando a gente (eu me incluo nessa) ainda acreditava que a web transformaria o mundo em uma “aldeia global” (e postava mensagens bonitas no recém-criado Orkut).
Talvez por isso, o Sr. Orkut em pessoa tenha feito tanto sucesso por aqui, apesar de sua rede social ter falido e de haver gente com coisas muito mais atuais para dizer. Em tempos de Elon Musk e Mark Zuckerberg, ele ficou para trás.
O turco Orkut Büyükkökten virou uma espécie de símbolo saudosista de um “tempo bom” nas redes, quando os algoritmos não tinham o poder de definir o que você vê e como deve enxergar o “mundo” (de dentro da sua bolha).
Naquela época, a gente nem sabia o que eram likes. Não havia, ainda, a obsessão por curtidas e a sua monetização, que passou a contar mais do que qualquer outra coisa.
Também não havia filtros para deixar a gente mais bonita (e irreconhecível), sem contar que desconhecíamos a fúria dos haters (os “odiadores”). Eles não eram onipresentes. Hoje, estão em todos os ambientes, destilando raiva e preconceito, cheios de ressentimento, e o pior: achando que têm razão.
Posso estar sendo traída pela memória (como sabemos, ela é seletiva), mas não lembro de mensagens de ódio no Orkut. Só me recordo dos testimonials, aqueles depoimentos queridos e cheios de admiração que as pessoas deixavam para amigos e parentes. E lembro, também, das comunidades, uma mais divertida do que a outra.
Em sua passagem pela Capital, Mister Orkut falou sobre aquele período e sobre as atuais mídias sociais. Disse que, hoje, elas não criam mais conexões reais:
— Agora, montamos versões perfeitas de nós mesmos para exibir aos outros, mas quanto mais escolhemos a ilusão da perfeição, mais nos afastamos do que realmente importa.
O fato é que, de certa forma, acabamos transformando a atenção em moeda de troca, e isso deu errado. As conexões genuínas perderam espaço para o espetáculo, a performance, a obsessão por “viralizar”. As redes viraram tudo, menos sociais. São até antissociais, eu diria.
Mas será que algo como o Orkut daria certo hoje? A rede ficou no ar entre 2004 e 2014. Foram anos de êxito e de decadência. No fim, não havia quase ninguém lá. Era como se aquelas bolas de feno voassem no deserto, em silêncio. As pessoas (e eu também me incluo nessa) foram seduzidas pelas novas redes sociais e seus vídeos curtos, suas histórias voláteis e seus influenciadores.
Tenho visto cada vez mais gente cansada disso tudo. E sabe qual é o movimento que estão fazendo? Caindo fora. Talvez essa seja a nova revolução.