Expoentes musicais de um Brasil diverso, Chico César e Vitor Ramil deram uma lição de sincretismo na noite desta sexta-feira (11), no Salão de Atos da PUCRS. Juntos, mostraram, no compasso dos instrumentos e nas cordas vocais, que Sul e Nordeste não são tão distantes nem tão diferentes quanto parecem. O país é um só.
É óbvio, mas, em tempos de intolerância, preconceito, xenofobia e incompreensão reinantes, eles provaram que há unidade na diferença e mais: há esperança para quem ainda crê na capacidade de diálogo e no respeito às diferenças, mesmo quando elas parecem intransponíveis.
A convite do projeto Circuito Musical, Chico e Vitor dividiram o palco com o grupo Edu Martins Ensemble (músicos de primeira!) e o acordeonista Luciano Maia (convidado especial) e foram aplaudidos de pé pelo público. O teatro estava lotado para vê-los. Que bom.
Com seu estilo caloroso e amável, o paraibano de Catolé do Rocha deu um "cheiro" no amigo e encontrou um jeitinho de aquecer a estética do frio do Vitor de Satolep. Eles misturaram milonga e forró sem medo. E deu liga.
Uma Ramilonga solar e suingada nasceu diante da plateia embevecida. Foi incrível ver Chico cantando o "verde do chimarrão" nas ruas de Porto Alegre e mais ainda ouvi-lo entoar os versos de Deixando o Pago:
Alcei a perna no pingo
E saí sem rumo certo
Olhei o pampa deserto
E o céu fincado no chão
Troquei as rédeas de mão
Mudei o pala de braço
E vi a lua no espaço
Clareando todo o rincão
Marcas da obra de Vitor, a melancolia e complexidade sonora deram novos ares ao estilo leve, fácil e solto de Chico. Foi surpreendente escutar o gaúcho milongueiro cantar (e dançar) Mama África e se divertir com a estrofe de Deus me proteja (a música por excelência do famigerado "cidadão de bem"). Já vi muitos shows de Vitor, nunca nenhum assim.
A mistura fez bem a ele e ao ilustre visitante. Fez bem, também, a quem teve a sorte de testemunhar essa junção de talentos. O Brasil tem jeito, sim. E ele é lindo.
Sobre o Circuito Musical
O projeto tem financiamento da Lei Rouanet, realização do Ministério da Cultura e a parceria do Instituto de Cultura da PUCRS, que promovido grandes espetáculos na Capital.
A produção é da Cia de Produção, com apoio de Icatu Seguros e Rio Grande Seguros e Previdência.