Começa nesta sexta-feira (31) uma nova série na coluna, em parceria com o Perimetral Podcast, apresentado por Paulo Germano (PG) e eu no canal de YouTube de GZH e nas plataformas de áudio, com acesso gratuito.
Até março, mês do aniversário da Capital, vamos contar, uma vez por semana (aqui, em GZH, na Rádio Gaúcha e nas redes sociais), histórias e curiosidades por trás de canções que se tornaram símbolos da capital gaúcha.
São músicas que sobreviveram ao tempo e aos modismos e que seguem firmes na memória afetiva da cidade. Arrisco-me a dizer que ultrapassaram fronteiras e se tornaram hits do RS.
A série Hinos de POA começa com Flávio Bicca Rocha, autor de Horizontes. A canção surgiu na peça Bailei na Curva, que atravessa gerações há 40 anos, e ganhou vida própria: foi muito além dos palcos.
A história da canção "Horizontes"
Dizem que a genialidade está na simplicidade. Horizontes (leia a letra no fim do texto), nas palavras de seu criador, Flávio Bicca Rocha, é exatamente isso.
— Tem uma melodia muito simples, muito singela, que entra no ouvido de todo mundo — reflete o autor.
Quando Bicca concluiu os primeiros acordes, na casa do ator e diretor Júlio Conte, em 1983, para a peça Bailei na Curva, não imaginava que ali nascia um hino da cidade.
— A letra foi escrita aos poucos. Um dia, sentei no sofá do Júlio, peguei o violão e disse: “Bah, a gente tinha de fazer uma música para a peça” e, de repente, surgiu o verso “há muito tempo que ando…”. Fui para casa e, em dois, três dias, terminei, mas achava que era datada. Pensei que a música morreria nos anos 80 — recorda Bicca.
Não só não morreu, como virou hit na voz da gaúcha Elaine Geissler e segue bem viva, assim como Bailei na Curva, o espetáculo para qual a canção foi escrita. Síntese de uma geração que nasceu e cresceu à sombra da ditadura militar, o espetáculo tem mais de 40 anos e continua lotando teatros.
Horizontes também fala do “mau tempo” de 1964, 66 e 68 (auge dos anos de chumbo), mas não é panfletária. É delicada e poética. Talvez isso também explique por que resistiu ao tempo.
A letra
Horizontes*
Há muito tempo que ando
Nas ruas de um porto não muito alegre
E que no entanto, me traz encantos
E um pôr de sol me traduz em versos
De seguir livre, muitos caminhos
Arando terras, provando vinhos
De ter ideias de liberdade
De ver amor em todas idades
Nasci chorando, Moinhos de Vento
Subir no bonde, descer correndo
A boa funda de goiabeira
Jogar bolita, pular fogueira
Sessenta e quatro, sessenta e seis
Sessenta e oito, um mau tempo talvez
Anos setenta, não deu pra ti
E nos oitenta eu não vou me perder por aí
* Flávio Bicca Rocha