Primeiro, chegaram as cactáceas, as suculentas e as plantas de banhado. Depois, a coleção foi se diversificando: ganhou frutíferas, bromélias, orquídeas, cicas e até mudas de café e pau-Brasil. São mais de 200 plantas, distribuídas em vasos, pergolados e antigas banheiras de ferro. Tudo isso no topo de um prédio, em pleno centro de Porto Alegre.
Ali, não há linhas geométricas, arranjos polpudos ou canteiros homogêneos podados em estilo europeu. Tudo é rusticidade e biodiversidade. É preciso educar o olhar para ver. Não é um jardim convencional. É o Jardim Lutzenberger.
Em 2023, esse oásis urbano de estética singular completa duas décadas no terraço da Casa de Cultura Mario Quintana, em um feliz encontro entre dois poetas - um, das palavras, o outro, da natureza.
Lutz, como ficou conhecido José Antonio Lutzenberger, inaugurou o debate ecológico no Brasil da década de 1970. Foi voz enérgica, ativa e combativa, alertando para o que via como o “fim do futuro”.
Naquele tempo, os conceitos de emergência climática e de aquecimento global ainda não faziam parte do léxico comum. Progresso era sinônimo de devastação, e os recursos naturais eram exatamente isso: meros recursos, considerados infinitos.
Lutz jamais se conformou com essa visão de mundo.
Ele e suas ideias, de alguma forma, seguem reverberando naquele espaço de rara beleza, que se tornou um prolongamento do Rincão Gaia - santuário de Lutz em Rio Pardo, onde jazia uma antiga pedreira. O jardim citadino nasceu um ano depois da morte dele, com o aval de suas filhas, as biólogas Lilly e Lara Lutzenberger.
Desde então, o espaço está em contínua evolução e, nos últimos meses, ganhou novos ares: passou por um rearranjo paisagístico e recebeu um letreiro em cerâmica com o nome do ambientalista.
Ao visitar o local, muita gente ainda se surpreende ao ver, aqui e ali, entre crassuláceas, costelas-de-adão e tillandsias, o que o senso comum chama de “inço”. Lutz daria risada. O que para alguns é “praga”, para outros é vida. Lutz vive.
Os criadores
A iniciativa de criação do Jardim Lutzenberger partiu de Mary Mezzari (jornalista e radialista gaúcha falecida em 2015), da Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ), à época sob a direção de Julio Conte, e de Elisabeth Renck junto à Fundação Gaia - Legado Lutzenberger. A concepção foi de Paulo Backes, fotógrafo, agrônomo e paisagista, e o projeto das pérgolas, de Mauro Fuke.
Os apoiadores
Desde a inauguração, além da empresa Vida Desenvolvimento Ecológico, tocada pelas filhas de Lutz, uma série de parceiros ajudaram a manter o espaço: Sunnseitn Institut, da Áustria, Laboratório Multilab, Braskem e, desde 2020, Stihl, a atual patrocinadora.
Quem cuida
A supervisão nos arranjos florais é de Paulo Backes, que conhece cada canto do jardim, e a manutenção está a cargo de Larissa Cabral - se você passar por lá e enxergar alguém regando as plantas, já sabe. Larissa está sempre de olho. O espaço também conta com o apoio da atual diretora da CCMQ, a arquiteta e urbanista Germana Konrath.
Para saber mais
- A Casa de Cultura Mario Quintana fica na Rua dos Andradas, 736, no centro de Porto Alegre. Está aberta de terças a domingos, das 10h às 20h.
- Vale a pena saber mais sobre o Rincão Gaia, a área de 30 hectares regenerada por Lutz, onde, no passado, havia uma pedreira. Fica na divisa entre Rio Pardo e Pantano Grande, no Vale do Rio Pardo. É possível, inclusive, agendar visitação. Mais informações no WhatsApp (51) 99725-3685, nos perfis do rincão no Instagram e no Facebook e no site www.fgaia.org.br.