
Cansado de tentar buscar um diálogo com a empresa Rumo e uma solução para a malha ferroviária do Rio Grande do Sul, o vice-governador subiu ainda mais o tom das reclamações. Em entrevista realizada antes do evento Tá na Mesa da Federasul de quarta-feira (17), Gabriel Souza disse que ela é desrespeitosa com os gaúchos.
- Vamos ser francos aqui. Vamos falar um bom português. Todos perderam a paciência. A Rumo é desrespeitosa com o Rio Grande do Sul. A Rumo não faz um centavo de investimento há muitos anos aqui. A Rumo não tem interesse econômico do ponto de vista do seu grupo econômico. O que ela tem como principal core business é açúcar. Então, ela não tem interesse econômico nos produtos, nas commodities produzidas pelo Rio Grande do Sul - destaca Souza.
A malha ferroviária gaúcha é de responsabilidade da iniciativa privada desde 1997. O trecho da concessão tinha 3,8 mil quilômetros. Caiu para 1,6 mil devido à falta de investimento.
- Nós estamos vivendo uma situação em que a Rumo tem uma malha que vai desde um pouquinho do sul de São Paulo até o Rio Grande do Sul, que é a Malha Sul. E ela tem interesse, basicamente, no Paraná. Essa é a verdade - avalia o vice-governador.
Depois da enchente, a situação piorou ainda mais. Somente 921 quilômetros estão em uso.
Souza é o responsável por conduzir o assunto dentro do governo do Estado. Recentemente, o Palácio Piratini foi chamado pelo Ministério dos Transportes a participar das reuniões com a Rumo sobre a Malha Sul.
Apesar das críticas, a cobrança não surtirá efeito na Rumo. O contrato que a empresa tem com a Agência Nacional dos Transportes Terrestres vai até fevereiro de 2027.
Segundo o que apurou a coluna, o contrato estipula que o seguro feito pela Rumo será usado para garantir um pouco da reconstrução das vias atingidas pela enchente. O valor para toda a malha sul gira em torno de R$ 1 bilhão, que envolve também Santa Catarina e Paraná.
Para a reconstrução do trecho gaúcho. deverão ser repassados até R$ 300 milhões. O montante não chega nem perto dos mais de R$ 3 bilhões apontados como necessários.
O governo ainda não decidiu se esse recurso será usado para reerguer pontes ou se aceitará o dinheiro para colocar como investimento na próxima concessão. Também não foi batido o martelo se o atual contrato será prorrogado ou se haverá uma nova licitação.
- Se nós formos consultados sobre a eventual prorrogação desse contrato, nós seremos contra. Nós seremos contra. Porque é uma situação insustentável que as evidências demonstram - conclui o vice-governador.
30 anos
De 1997 a 2005, o controle da malha ferroviária gaúcha era feito pela América Latina Logística (ALL). Depois disso, a empresa foi comprada pela Rumo Logística, que assumiu a responsabilidade da operação. O trecho gaúcho está dentro da Malha Sul, que possui 6,5 mil quilômetros também em Santa Catarina, Paraná e São Paulo.