Aos poucos, a vista nos andares mais altos do centro de Porto Alegre está mudando. O Esqueletão está vindo abaixo.
Os dois andares mais elevados - 19º e 18º - já foram demolidos. Nesta segunda-feira (17), a coluna visitou o edifício Galeria XV de Novembro, localizado na Rua Marechal Floriano Peixoto.
O primeiro desafio é subir os 17 lances de escada que ainda resistem. Ao longo da subida, pontos com galões de água e bancos ajudam a enfrentar o esforço dos trabalhadores, principalmente nos dias mais quentes.
Do alto do prédio, é possível ver um centro de Porto Alegre diferente. A arquitetura do prédio da prefeitura, do Mercado Público, do abrigo dos bondes e do Rio Jacuí (sim, é Jacuí, pois o Guaíba só começa a partir da Usina do Gasômetro) impressiona.
Trabalhadores destroem paredes, separam o ferro, a madeira e a caliça. Por exigência da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego no Rio Grande do Sul, telas impedem que algum pedaço da demolição atinja pessoas ou prédios vizinhos.
— As pessoas só dizem coisas boas da nossa obra. Ninguém defende o Esqueletão ou cobra prazos. Só agradecem pela demolição estar ocorrendo — revela o secretário municipal de Obras e Infraestrutura, André Flores.
A empresa responsável pela demolição tem levado até duas semanas para colocar abaixo cada andar, considerando a montagem das proteções, a destruição e a desmontagem dos equipamentos de segurança. A previsão é que, em abril, restem somente nove dos 19 andares do Esqueletão.
A próxima etapa envolverá a demolição de nove andares da parte da frente do imóvel. A expectativa de Flores é que entre julho e agosto será possível executar a última etapa do serviço, que pode passar pela implosão da estrutura principal do que restará do prédio.
— Certamente, no momento em que formos marcar, nós vamos conversar com todos os atores da sociedade, com as associações, com os moradores, com os comerciantes, com a Epac (Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural). Mas ainda não é o momento disso, porque estamos na fase da demolição mecânica do prédio — projeta o secretário.
Ao todo, até oito mil toneladas de entulho deverão ser retiradas do prédio até o final dos trabalhos. As caliças são enviadas para depósitos regularizados da prefeitura.
Ocupação
Inacabado desde a década de 1950, o Esqueletão já foi interditado administrativamente pela prefeitura em pelo menos duas ocasiões, nos anos de 1988 e 1990. Também já houve interdição judicial em 2019.
Nos primeiros dois andares, lojas vendiam seus produtos. Mas a prefeitura encontrou vestígios de ocupação do imóvel até o 7º pavimento.
— Encontramos itens até o sétimo, que indica ocupação. Também havia muitos documentos abandonados, apontando que o prédio era ponto de desova de itens roubados — descreve Flores.
Depois da demolição
Ainda não se sabe o que será feito com o terreno após a demolição do Esqueletão. O prédio tem cerca de 50 proprietários e há dívidas em IPTU. Em setembro de 2021, a Secretaria Municipal da Fazenda (SMF) avaliou o imóvel em cerca de R$ 3,4 milhões.
Já o custo da demolição será de R$ 3,79 milhões, que está sendo arcado pela prefeitura de Porto Alegre. Quem irá dizer como a administração municipal será ressarcida e qual será o futuro do terreno será o Judiciário.