Um investimento de R$ 1,4 milhão feito às margens da BR-386 no município de Estrela, no Vale do Taquari, está sendo consumido pela ação do tempo. A Casa do Artesanato da comunidade indígena caingangue está abandonada.
O imóvel foi previsto como uma das obras da duplicação da rodovia. A pista duplicada impactaria na comunidade. Então, a aldeia Jamã Tỹ Tãhn recebeu a construção de 29 casas, uma escola, uma casa de fala (local para reuniões) e a casa do artesanato. O investimento total com estas construções foi superior a R$ 10 milhões.
Construída em 2016 para ser um ponto de comercialização de produtos feitos na aldeia, o estabelecimento praticamente nunca chegou a ter este fim. Ele ajudaria a gerar renda para as famílias que moram na região. O imóvel só foi entregue em julho de 2018, depois que houve a conclusão das obras da duplicação na região. Até o ano passado, ao menos, a casa de artesanato servia de moradia de uma família indígena. Eventualmente, uma ou outra família chegam a ocupar a fachada do local, mas as condições precárias do interior do imóvel não auxiliam a utilização de toda a estrutura.
Alertada do desvio de finalidade da construção, na semana passada, GaúchaZH esteve no local. Cones instalados na entrada do pátio buscam impedir que um veículo acesso o imóvel. Porém, a sinalização foi colocada em cima dos arames que antes serviam de portão.
Um sofá velho e rasgado no pátio dão as boas para quem se aproxima da porta de entrada. Um lençol esticado em uma das grandes janelas de vidro indicava que quem o colocou tentou dificultar a iluminação externa, o vento e a chuva.
Placa de trânsito, um par de tênis velho também serviam de decoração na recepção. Dentro, um local sujo, que mostra como o dinheiro público está sendo tratado.
A coluna procurou a Fundação Nacional do Índio (Funai), que informou que o espaço foi construído pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) como medida compensatória aos danos ambientais causados pela duplicação da BR-386, que passa em frente à aldeia Jamã Tỹ Tãhn, do povo caingangue.
"A sugestão da Funai à comunidade foi de que a estrutura funcionasse como casa de artesanato para venda de produtos confeccionados pela etnia. Entretanto, o uso do espaço fica a critério da própria comunidade, e a fundação respeita a decisão e a autonomia do povo indígena", disse a nota enviada pela assessoria da Funai.
A duplicação de 34 quilômetros da BR-386, entre Fazenda Vilanova e Tabaí, começou em novembro de 2010 e deveria ter sido concluída no fim de 2013. A obra só foi totalmente finalizada em junho de 2018. Contratada originalmente por R$ 47,4 milhões, a obra ficou 41,72% mais cara nesse período, o equivalente a um custo adicional de R$ 61,5 milhões.
Alguns motivos fizeram com que a obra demorasse quase uma década. O cronograma foi atrasado, principalmente, por causa das dificuldades de reassentamento da comunidade indígena. Houve demora também na obtenção de licenças ambientais, além da falta de dinheiro.