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Dos 34 denunciados nesta terça-feira (18) pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por tentativa de golpe de Estado em 2022, a maioria absoluta é formada por militares. São 24 oficiais, da ativa ou da reserva, que teriam conspirado para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Entre os denunciados estão seis generais, todos da reserva do Exército, além de um almirante (da Marinha). Todos são apontados como integrantes de organização criminosa que tentou um golpe de Estado no Brasil, mas os papéis atribuídos pela investigação a cada um variam muito. Alguns teriam apenas estimulado a desconfiança em relação ao processo eleitoral, colocando em dúvida a exatidão das urnas eletrônicas. É o caso do general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, que chefiou elaboração de relatório que semeou dúvidas sobre o processo eleitoral, antes da eleição de Lula. Na época, o militar era ministro da Defesa do governo de Jair Bolsonaro (PL).
Outros foram investigados por crimes ainda mais graves. É o caso do general Mário Fernandes, que teria arquitetado um plano para assassinar Lula e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele e alguns oficiais intermediários do Exército, com ajuda de um policial federal, teriam inclusive encomendado armamento para cometer os homicídios, conforme relatório da Polícia Federal.
Esse plano de assassinatos de autoridades teria sido autorizado pelo candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro, que acabou derrotada, general Walter Braga Netto. Ele também foi denunciado pela PGR.
Militares denunciados pela PGR por trama golpista
- Capitão reformado Jair Bolsonaro
- General da reserva Braga Netto
- General da reserva Augusto Heleno
- General da reserva Mario Fernandes
- General da reserva Estevam Theophilo
- General Nilton Diniz Rodrigues
- General da reserva Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira
- Almirante da reserva Almir Garnier Santos
- Tenente-coronel Mauro Cid
- Coronel da reserva Marcelo Costa Câmara
- Tenente-coronel Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros
- Capitão reformado Ailton Gonçalves Moraes Barros
- Coronel Cleverson Ney Magalhães
- Coronel Fabrício Moreira de Bastos
- Subtenente Giancarlo Gomes Rodrigues
- Major da reserva Ângelo Martins Denicoli
- Coronel Bernardo Romão Corrêa Neto
- Coronel Anderson Lima de Moura
- Coronel Márcio Nunes de Resende Júnior
- Tenente-coronel Ronald Ferreira de Araújo Júnior
- Tenente-coronel Hélio Ferreira Lima
- Tenente-coronel Guilherme Marques Almeida
- Major Rafael Martins de Oliveira
- Tenente-coronel Rodrigo Bezerra Azevedo
Os 34 indiciados (militares e civis)
Ailton Gonçalves Moraes Barros
Já foi preso pela Polícia Federal sob suspeita de intermediar a inserção ilegal de dados no cartão de vacinação de Bolsonaro. Também foi investigado por suposto acordo com o tráfico e expulso do Exército após punições disciplinares. Ex-major, virou advogado. Concorreu a deputado estadual no Rio de Janeiro pelo PL em 2022, mas não se elegeu.
Alexandre Rodrigues Ramagem
Delegado da Polícia Federal. Foi diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo Bolsonaro. É próximo da família do ex-presidente e se filiou ao PL. Em 2022, foi eleito pela sigla deputado federal no Rio de Janeiro. Na eleição de 2024, concorreu, com o apoio de Bolsonaro, à prefeitura do Rio, mas foi derrotado no primeiro turno.
Almir Garnier Santos
Almirante de esquadra, comandou a Marinha em parte do governo Bolsonaro, entre abril de 2021 e dezembro de 2022. Segundo a delação de Mauro Cid, seria simpático a um golpe de Estado e "sua tropa estaria pronta para aderir a um chamamento do então presidente."
Anderson Gustavo Torres
Natural de Brasília, Anderson Torres era delegado da Polícia Federal. Foi ministro da Justiça e Segurança Pública no governo Bolsonaro, entre março de 2021 e dezembro de 2022. No início de 2023, tornou-se secretário da Segurança do Distrito Federal. Em 8 de janeiro daquele ano, nos primeiros dias do seu novo cargo, estava em viagem de férias para os Estados Unidos. É suspeito de ter facilitado a ação de manifestantes golpistas que invadiram e depredaram as sedes dos três poderes, em Brasília.
Foi preso por cerca de quatro meses. Em buscas na residência de Torres, foi encontrado o documento que ficou conhecido como "minuta do golpe", que seria utilizado para determinar a realização de novas eleições no país e prender o ministro Alexandre de Moraes (STF).
Ângelo Martins Denicoli
Major do Exército, pertencia ao núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral, segundo a PF.
Augusto Heleno Ribeiro Pereira
General, ex-comandante da Missão de Paz no Haiti, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante o governo Jair Bolsonaro.
Bernardo Romão Corrêa Netto
Coronel do Exército. Conforme a PF, teve participação ativa na convocação e realização de uma reunião em Brasília, em novembro de 2022, com militares das Forças Especiais, para discutir uma estratégia com o governo Bolsonaro sobre investidas golpistas.
Carlos Cesar Moretzsohn Rocha
Engenheiro eletrônico, foi contratado pelo PL para auditar as urnas eletrônicas e apontou que elas seriam passíveis de fraude.
Cleverson Ney Magalhães
Coronel do Exército, foi subcomandante do Centro de Guerra na Selva. É suspeito de ajudar a organizar os distúrbios de 8 de janeiro de 2023 em Brasília e de tentativa de golpe de Estado.
Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira
General, comandante do Comando de Operações Terrestres do Exército (Coter), ex-Forças Especiais.
Fabrício Moreira de Bastos
Coronel de Infantaria, foi adido na embaixada do Brasil em Israel. Foi indiciado por assinar uma carta aberta considerada com teor golpista.
Filipe Garcia Martins
Foi assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República. Martins era da chamada ala ideológica do governo Bolsonaro, discípulo do falecido escritor e teórico Olavo de Carvalho.
Fernando de Sousa Oliveira
Foi secretário-executivo de Segurança Pública do Distrito Federal. Era o segundo no comando da pasta, que tinha Anderson Torres como titular. Assumiu a coordenação durante a ausência de Torres.
Giancarlo Gomes Rodrigues
Subtenente do Exército, trabalhava na Abin. Conforme a PF, espionou, sem ordem judicial, deputados de oposição a Bolsonaro, como Joice Hasselmann e Rodrigo Maia.
Guilherme Marques de Almeida
Tenente-coronel do Exército, é apontado como integrante de um núcleo de desinformação sobre a confiabilidade das urnas. É suspeito de disseminar fake news.
Hélio Ferreira Lima
Tenente-coronel do Exército, é ex-integrane das Forças Especiais e teria participado do plano para matar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes (STF). Está preso.
Jair Messias Bolsonaro
Capitão reformado do Exército, presidente da República entre 2019 e 2022. Começou a carreira política como vereador no Rio e foi deputado federal.
Marcelo Bormevet
Agente da Polícia Federal lotado na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), assessorava o diretor da agência, Alexandre Ramagem. É acusado de espionar ministros do STF.
Marcelo Costa Câmara
Capitão do Exército, ex-ajudante de ordens do presidente Jair Bolsonaro. Acusado de disseminar fake news e planejar golpe de Estado.
Márcio Nunes de Resende Júnior
Coronel do Exército. Segundo a denúncia, integrava um grupo de whatsapp administrado por Mauro Cid, composto somente por oficiais das Forças Especiais. Uma reunião com integrantes destas forças em que se discutiu o plano golpista aconteceu no salão de festas do edifício onde Resende Júnior morava, segundo a investigação.
Mário Fernandes
General, chefe-adjunto da Secretaria-Geral de Governo, ex-Forças Especiais.
Marília Ferreira de Alencar
Delegada da Polícia Federal (PF) que foi Diretora de Inteligência do Ministério da Justiça e Segurança Pública e subsecretária de Inteligência na Secretaria de Segurança do Distrito Federal, quando Anderson Torres era secretário.
Mauro Cesar Barbosa Cid
Tenente-coronel, ex-integrante das Forças Especiais, ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.
Nilton Diniz Rodrigues
General, ex-comandante de uma brigada na Amazônia. Era das Forças Especiais e se comunicou com vários suspeitos de tramar golpe de Estado. Assinou carta em suposto apoio a golpe de Estado por parte de Jair Bolsonaro.
Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho
Empresário e blogueiro, é neto do ex-presidente e general João Figueiredo. Defensor da ditadura militar, foi indiciado por propaganda antidemocrática e incitar militares a golpe de Estado.
Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira
General, ministro da Defesa de Bolsonaro. Enviou um relatório ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) lançando suspeitas sobre a lisura das urnas.
Rafael Martins de Oliveira
Tenente-coronel do Exército, é um dos presos pelo plano terrorista de assassinato de Alexandre de Moraes (STF), Lula e Alckmin.
Reginaldo Vieira de Abreu
Seria peça-chave na disseminação de notícias falsas para colocar em dúvida a integridade do sistema eleitoral brasileiro. Coronel do exército, a investigação indica que Abreu manipulou relatório oficiais das Forças Armadas para corroborar fake news divulgadas pelo argentino Fernando Carimedo. Em outro ato, levou um hacker à sede da PF em Brasília, para registrar denúncias e fraudes contras as urnas eletrônicas.
Rodrigo Bezerra de Azevedo
Seria chefe do grupo de operações que planejava o assassinato do ministro Alexandre de Moraes, indica a PF. Ele é major do Exército Brasileiro e integra o Comando de Operações Especiais (Copesp).
Ronald Ferreira de Araújo Júnior
Tenente-coronel do Exército, trabalhava no Centro de Comunicações e Guerra Eletrônica. Segundo a PF, participou da redação da minuta do golpe entregue a Jair Bolsonaro.
Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros
Tenente-coronel do Exército, integraria o núcleo de um grupo responsável por organizar reuniões e manifestações em frente aos quartéis, incluídos a mobilização, a logística e o financiamento de militares das forças especiais, em Brasília.
Silvinei Vasques
Era diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em 2022. Segundo a denúncia, "direcionou os recursos da Polícia Rodoviária Federal para o objetivo de inviabilizar ilicitamente que Jair Bolsonaro perdesse o Poder".
Walter Souza Braga Netto
General, ex-ministro da Defesa e candidato a vice-presidente na chapa derrotada de Jair Bolsonaro. Teria organizado reuniões para planejar golpe de Estado. Braga Netto foi preso pela PF em 14 de dezembro.
Wladimir Matos Soares
Agente da Polícia Federal, indiciado por passar informações sobre a segurança de Lula para autores de plano de assassinato do presidente eleito.