O assassinato de um homem ligado a facção criminosa por um bando rival, ocorrido sexta-feira (17) em Porto Alegre, terminou com a prisão de seis suspeitos de envolvimento no crime em menos de 24 horas. E apreensão de um arsenal com os quadrilheiros, inclusive uma granada.
O episódio é uma aula de investigação. Afinal, qualquer aspirante a policial recebe como primeira lição que a solução de um crime é mais provável quanto mais rápida for a ação policial. De preferência, assim que o delito acontece. Foi o que ocorreu após o assassinato do rapaz, ocorrido durante a manhã no bairro Navegantes.
Agentes da Divisão de Homicídios da Polícia Civil gaúcha acionaram na hora o Protocolo das Sete Medidas de enfrentamento aos homicídios. Ele foi elaborado pelo delegado Mário Souza, com apoio do secretário da Segurança Pública Sandro Caron, e se inspira num modelo norte-americano. Um dos princípios é similar ao das janelas quebradas: se a polícia deixa crimes menores acontecerem, logo os maiores surgem atrás. Se demora a agir, uma sequência de assassinatos se seguirá ao primeiro.
O primeiro passo foi identificar quem desejava a morte da vítima. Policiais civis e militares foram a campo, ainda no lugar do assassinato. Como era gente do submundo, não foi difícil descobrir os inimigos, mas era necessário encontrá-los e provar seu envolvimento no crime.
Uma equipe liderada pelo delegado Eric Dutra conseguiu as identificações e o provável paradeiro da quadrilha, vista fugindo em direção à Vila Cruzeiro. É gente ligada à facção V7.
Quatro foram localizados numa casa que servia de esconderijo. Com eles, uma granada (explosivo capaz de matar várias pessoas), fuzil, pistolas, coletes balísticos, radiocomunicadores e uniformes da Polícia Civil (os assassinos se fingiam de policiais para chegar perto das vítimas). O material será periciado, mas o Judiciário decretou as prisões em flagrante, inclusive por suspeita de assassinato. Outros dois supostos membros da quadrilha foram presos nas imediações.
É um caso exemplar de funcionamento do protocolo. Entre as sete medidas adotadas, uma das primeiras é a saturação de áreas por meio da presença do policiamento, sempre que houver um assassinato ligado às disputas entre facções criminosas. Isso foi feito e deu certo. Agora serão ampliadas investigações voltadas ao grupo criminoso e suas lideranças, responsabilizadas. É provável que os mandantes do crime sejam isolados no sistema penitenciário.
— Todo grupo criminoso que determinar homicídios vai para a lista de prioridades das investigações. E vamos vir com várias ações: asfixia financeira, prisão da liderança, prender o segundo escalão, ações de combate à lavagem de dinheiro. Esse grupo vai sofrer consequência do Estado e não vamos aceitar prática de homicídio — tem afirmado o secretário de Segurança Pública, Sandro Caron.
As sete medidas ajudam a explicar porque 2024 foi o ano menos violento no Rio Grande do Sul desde 2010. E porque o número de assassinatos vem caindo há quase uma década. Que siga assim.