As redes sociais, essa mistura de dádiva e praga moderna, voltaram a se incendiar ante a menção do nome do general da reserva Valério Stumpf Trindade. Ele é um dos integrantes das Forças Armadas que foram decisivos para impedir um golpe militar que, segundo investigações da Polícia Federal (PF), desejava manter no poder o então presidente Jair Bolsonaro (PL), derrotado em sua tentativa de reeleição em 2022. A polêmica em relação a esse que é um dos mais destacados quadros do Exército brasileiro é que, no relatório da PF que indiciou 37 pessoas por tentarem a ruptura do Estado de Direito, Stumpf é apontado pelos golpistas como "informante de Alexandre de Moraes", o ministro do STF, que na época das eleições 2022 presidia o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A referência acontece pelo fato de que Stumpf, na época chefe do Estado-Maior do Exército (segundo na hierarquia), era interlocutor dos militares com o TSE. Bastou assinar um informe em que manifestava "a impossibilidade de uma ruptura" para ser atacado pelos radicais de extrema-direita que viam em Alexandre de Moraes uma espécie de monstro a afiançar a posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A filha de Stumpf foi atacada nas redes e obrigada a ouvir que o pai era um "traidor da Pátria", apenas pelo fato dele (e de outros quatro proeminentes generais do Alto Comando) terem se recusado a impedir a posse do eleito. Os ataques vieram inclusive de comentaristas de rádio, TV e internet.
Mas quem é Stumpf? Gaúcho de São Gabriel, é um dos mais destacados quadros que as Forças Armadas já produziram. Esteve em duas guerras civis nos anos 1990, a de Angola e a da antiga Iugoslávia, como observador militar da Organização das Nações Unidas (ONU). Nos dois locais teve oportunidade de presenciar combates reais. O primeiro uniforme vestiu em 1975, quando ingressou na Escola Preparatória de Cadetes do Exército. E não parou. Chefiou alguns dos principais postos militares do país e chegou a ser adido militar junto à Embaixada do Brasil no Reino Unido. Quando da tentativa de golpe em 2022, era na prática o chefe operacional do Exército (logo abaixo do Comandante).
Stumpf é como a maioria dos colegas: uma vez militar, sempre milico, mesmo aposentado. E teve de voltar a campo para se defender dos ataques. O pecado foi tentar impedir que o Brasil mergulhasse mais uma vez numa espiral de violência nas ruas em decorrência da ruptura institucional. Algo que levaria ao cenário de brasileiros contra brasileiros, além de boicotes internacionais. Isso é defeito ou virtude? Com a palavra, o leitor.