Como evitar que agentes da lei atentem contra a própria vida? Esse foi o tema de um dos painéis do Conexão de Experiências em Segurança Pública e Prevenção às Violências (Connex), encontro internacional que acontece em Pelotas, no sul do Estado, até sexta-feira (15). Três mulheres especializadas no tema debateram sinais de alerta sobre o estado psicólogico dos policiais e precauções que podem ser tomadas pela cúpula das áreas da segurança.
O número de policiais que morreram em suicídios é, historicamente, maior do que o de agentes vítimas de confrontos com criminosos. Conforme dados obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, entre 2018 e 2022, 509 agentes da lei ativos morreram por suicídio no Brasil. O número deve ser ainda maior, porque pelo menos quatro Estados não responderam ao pedido por dados.
A grande alta aconteceu durante a pandemia de coronavírus. O suicídio de policiais no Brasil cresceu 55% entre 2020 e 2021, passando de 65 mortes para 101. A Polícia Militar foi a que mais registrou suicídios no período, passando de 52 para 80 mortes, um aumento percentual de 54%. Já na Polícia Civil o aumento percentual foi mais expressivo, de 61,5%, passando de 13 para 21 mortos.
O número de suicídios entre policiais é quase oito vezes maior que a taxa média entre a população. O debate no Connex teve participação da socióloga Tatiana Sardinha Pereira (pesquisadora do Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Suicídio, o IPPES), da psicóloga pelotense Marcelene Duarte (especializada no tema) e de Renata Schramm Bauer, da Secretaria de Administração e Recursos Humanos de Pelotas.
Tatiana definiu o perfil-padrão do suicida na área da segurança. Em geral, é homem, de baixa patente (praça nas PMs ou agente, nas polícias civis), idade média de 41 anos e ainda na ativa. Até por estarem de serviço, possuem acesso pleno a armas de fogo, maior fator de risco para suicídios.
Entre os fatores que mais levam agentes da lei a atentarem contra a vida estão a falta de reconhecimento profissional, condições estressantes de trabalho, remuneração que ele considera incompatível com o risco sofrido e, ainda, falta de apoios psicoemocional.
Marcelene falou de sinais que os próprios colegas podem identificar entre policiais propensos a suicídio. Alguns deles são de transtorno de estresse pós-traumático, como pesadelos constantes, isolamento social, excitação psicomotora, e outros de depressão, como instabilidade de humor, fadiga constante e alterações no sono. Na maioria das vezes, turbinados por abusos de substâncias, como álcool e drogas.
Renata ressaltou a importância da prevenção do suicídio dentro das corporações policiais.
Algumas dicas, segundo as palestrantes:
- Desmistificar o adoecimento emocional. Evitar o estigma.
- Adotar a psicoeducação. Repassar noções de problemas psicológicos, para que os próprios servidores identifiquem quando estão propensos a adoecer.
- Formar redes de apoio institucionais. A BM tem sistemas de apoio, com cursos para profissionais identificarem sintomas em colegas.
- Falar de sentimento com os policiais, sem expressar julgamentos. É importante o profissional não ter vergonha do que sente.
Procure ajuda
Caso você esteja enfrentando alguma situação de sofrimento intenso ou pensando em cometer suicídio, pode buscar ajuda para superar este momento de dor. Lembre-se de que o desamparo e a desesperança são condições que podem ser modificadas e que outras pessoas já enfrentaram circunstâncias semelhantes.
Se não estiver confortável em falar sobre o que sente com alguém de seu círculo próximo, o Centro de Valorização da Vida (CVV) presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato. O CVV (cvv.org.br) conta com mais de 4 mil voluntários e atende mais de 3 milhões de pessoas anualmente. O serviço funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados), pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil (confira os endereços neste link).
Você também pode buscar atendimento na Unidade Básica de Saúde mais próxima de sua casa, pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), no telefone 192, ou em um dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) do Estado. A lista com os endereços dos CAPS do Rio Grande do Sul está neste link.