O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil, com apoio da Brigada Militar, mobilizou no dia 6 deste mês 1,2 mil policiais contra um dos braços da maior facção criminosa gaúcha, baseado em Gravataí. Com apoio de policiais penais, os agentes cumpriram 190 ordens judiciais, que resultaram em mais de 30 prisões. É uma das maiores operações já realizadas em território gaúcho, apesar de alguns alvos prioritários não terem sido localizados.
Ações desse tipo, que tiram de circulação matadores e estrangulam sua capacidade financeira (ao apreender bens), são um dos segredos para a redução do número de homicídios no Rio Grande do Sul - apesar de eventuais surtos de morticínio. O número de assassinatos vem caindo desde maio e, salvo alguma reviravolta, tudo indica que será menor que o do ano passado. Talvez seja um retorno aos bons tempos do início da década. E não é só por causa das operações, embora elas sejam a culminância das investigações sobre mortes.
O diretor do DHPP, delegado Mário Souza, ressalta dois pontos que contribuem para a elucidação dos homicídios. Um deles é a manutenção das equipes volantes, que se deslocam para o cenário dos crimes assim que o local é isolado pela BM. A conversa com testemunhas e o interrogatório de possíveis suspeitos começa ali mesmo.
- Eu diria que a chance de resolver o caso é de mais de 50% nos primeiros momentos após o assassinato. As pessoas estão mais indignadas, os conhecidos das vítimas ainda não foram para suas casas, o que aconteceu está bem nítido para muita gente. É fundamental para o investigador agir nesse clima - resume Souza.
Outra providência adotada no DHPP é que o delegado responsável pela delegacia de Homicídios na região onde aconteceu o crime se desloca para lá imediatamente, mesmo que, em algumas ocasiões, esteja de folga. Apesar do cansaço, o resultado para as investigações costuma compensar.
- Prefiro trabalhar direto na madrugada, ouvindo testemunhas, e descansar no outro dia. Isso economiza muito trabalho futuro. Quanto mais tempo demora para a investigação começar, mais difícil fica a resolução do caso - pondera um delegado de Homicídios.
Foi assim num dos mais rumorosos casos do ano, quando dois rapazes foram mortos a tiros e outros seis foram feridos na orla do Guaíba, em meio a uma multidão de centenas de pessoas que ouviam música, praticavam esportes e consumiam bebidas. O caso aconteceu na madrugada de 10 de junho. Em minutos, a região foi tomada por policiais civis, militares e guardas municipais, que forneceram imagens de câmeras de vigilância e ajudaram a ouvir testemunhas. A sinergia entre as forças de segurança resultou na apuração da dinâmica do crime, na possível motivação (disputa por pontos de drogas entre integrantes de facções rivais) e nos nomes dos envolvidos nas mortes: dois jovens, de 18 e 20 anos. Eles foram presos ainda na madrugada, em flagrante, na casa de familiares. Até as armas supostamente envolvidas no crime foram encontradas. Os dois presos pelos crimes viraram réus.
Outra iniciativa é retomar casos não-elucidados, os chamados "cold cases", tão populares nos filmes policiais. Dois exemplos: após mais de dois anos, os policiais de Homicídios indiciaram os responsáveis por dois assassinatos notórios. Um deles foi a morte de uma dona de casa, Munike Krischke, que iria jantar com o marido no Dia dos Namorados e, dentro do carro, foi atingida por um paralelepípedo jogado de uma das pontes do Guaíba. Após ouvir novamente várias testemunhas, os agentes receberam uma pista, localizaram e conseguiram prender um homem apontado como o responsável.
O outro caso, cujo resultado os delegados divulgaram há poucos dias, é o assassinato do bicheiro João Carlos Franco Cunha, o Jonca. Ele foi morto à luz do dia, numa avenida movimentada de Porto Alegre. Os investigadores triaram todos os depoimentos, quebraram sigilos telefônicos e conseguiram indícios de que o banqueiro do bicho foi assassinado a mando de um rival na jogatina. Cinco pessoas foram indiciadas, falta só identificar quem apertou o gatilho.
Combater o crime não é fácil. Custa esforço, noites mal-dormidas, mas compensa. Que a população e os governantes apoiem. Esclarecer homicídios é montar quebra-cabeças.