
Um colega de profissão, o notório Carlos Wagner, vive me desafiando a escrever que o Brasil se encontra num processo de cartelização do crime, como ocorre no México, Equador e Colômbia. Eu reluto, porque considero que há muitas diferenças. No Brasil ainda não é rotina o sequestro de autoridades, o assassinato de policiais e promotores, o silêncio da mídia sobre crimes, como acontece em território mexicano. E a internacionalização das facções criminosas brasileiras ainda engatinha, em termos territoriais.
Feita a ressalva, é necessário admitir que o crime organizado no Brasil está cada vez mais ousado. Há muito não se limita a controlar o tráfico. Pratica extorsões contra qualquer pessoa envolvida em atividades clandestinas: jogatina, ambulantes ilegais, estelionatários. E, não contente com isso, avança sobre atividades legalizadas, uma das marcas dos cartéis mexicanos.
É o que demonstra uma etapa da investigação da Polícia Civil gaúcha que desembocou na Operação Fratelli, desencadeada nesta quarta-feira (19), com 173 ordens judiciais de prisão, busca e apreensão e quebras de sigilo, conforme demonstrou o colega Cid Martins. Os agentes do Departamento de Homicídios descobriram que, além de tráfico e assassinados, a facção investigada obrigou comunidades honestas a pagar por serviços que deveriam ser prestados pelo poder público.
Num bairro da zona sul de Porto Alegre (que não revelamos para proteger quem reside lá), moradores tiveram de pagar pelo asfaltamento de um acesso a uma vila. Foi estabelecido pelos gerentes locais do tráfico que isso era necessário para melhorar a recepção dos usuários de drogas, que lá vão de carro.
Os traficantes ameaçaram os residentes e mandaram boletos bancários de "contribuição" obrigatória para o serviço, a ser pago em duas etapas. A primeira etapa foi orçada em R$ 8 mil. O asfaltamento aconteceu e os detalhes ainda estão sob investigação.
Pode isso?
Parabéns aos policiais civis pela ação. Não basta o sujeito ter pouco retorno dos impostos devidos... ainda é parasitado pelo crime organizado. É o que faltava.