A Polícia Federal assinou nota na última sexta-feira(17) na qual afirma que não houve mandante ou organização criminosa envolvida nos assassinatos do indigenista Bruno de Araújo Pereira e jornalista Dom Phillips, ocorridos no Vale do Javari (Amazonas). Os dois, como o leitor sabe, foram mortos por tiros de espingarda e tiveram os corpos esquartejados e queimados. Três pescadores estão presos como suspeitos pelo crime. Teriam cometido os homicídios após a fiscalização exercida pelo sertanista a respeito da pesca ilegal e pelas fotos tiradas pelo repórter.
Com todo o respeito, cedo demais para a PF concluir que não há mandante por trás dos assassinatos. Até porque depois de divulgada essa nota, mais um pescador foi preso e as autoridades avisam que há mais cinco suspeitos de envolvimento nos crimes.
Até pode ser iniciativa isolada de um grupo de pescadores, mas é preciso rastrear com quem eles se comunicaram antes dos assassinatos. Isso demanda perícia nos celulares, rastreamento via antenas telefônicas.
É preciso ouvir mais gente. Até porque o sertanista Bruno tinha inimigos às mancheias. Ele era servidor da Funai e estava licenciado desde um episódio rumoroso, no qual liderou a queima de 60 balsas de garimpeiros que atuavam ilegalmente na área indígena do Vale do Javari. Os mineradores se queixaram de abusos por parte do servidor da Funai e ele acabou retirado da fiscalização.
A Funai há muito vem alertando para a falta de fiscais para tanta área a ser vigiada. Em outubro de 2021, a fundação elaborou uma nota técnica em que menciona que os riscos dos servidores aumentam na medida em que o seu efetivo diminui. Sobretudo na Amazônia. A revelação é da Fiquem Sabendo, agência de dados especializada no acesso a informações públicas via Lei de Acesso à Informação (LAI).
Reparem nesse trecho do documento:
“...observa-se que muitas atividades desempenhadas pela FUNAI se dão em áreas remotas, isoladas, em cidades com infraestrutura deficitária, como nas fronteiras. Esses locais possuem alto grau de periculosidade no tocante à exposição dos profissionais a uma rede de interesses em exploração ilegal do território indígena, que acabam por sofrer ameaças de morte, estendidas às famílias, e até mesmo, assassinatos consumados".
Bruno e Dom, que documentava seu trabalho, foram mortos meses depois. Premonição? Não, simples cálculo baseado em evidências. É por isso que as investigações não podem parar com a prisão dos assassinos. Caso concluam que não houve mandantes, OK. Mas ainda é cedo.