As autoridades de Santa Maria estão de luto. A cidade, que chegou a ser tida como favorita para sediar a nova Escola de Sargentos do Exército (ESA), perdeu a disputa para Recife (PE). Natural. É um empreendimento estimado em R$ 1,2 bilhão, que pode render R$ 300 milhões anuais em circulação no município escolhido.
A decisão foi tomada na quinta-feira (21) pelo comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, e anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro, nas redes sociais.
A disputa era travada entre Santa Maria, Ponta Grossa (PR) e Recife. Desde o início as duas primeiras eram as melhores colocadas no ranking de apostas. A escolha ficou com o azarão, a capital pernambucana.
Santa Maria é, de longe, a cidade que tem mais estrutura para receber projetos militares. É a segunda em número de militares das Forças Armadas no país (só perde para o Rio de Janeiro). Tem uma rede hospitalar (incluindo hospital militar) e de Ensino Superior invejável. Tem terreno próprio a oferecer para uma academia militar. Por que, então, não foi escolhida, apesar do intenso lobby dos políticos gaúchos?
Generais disseram ao colunista que a escolha foi estratégica e geográfica, não política. Fosse para agradar eleitores de Jair Bolsonaro, a Escola de Sargentos deveria ir para o Paraná (onde o governador e a prefeita de Ponta Grossa são aliados do presidente) ou Rio Grande do Sul (onde o bolsonarismo é também forte e tem muitos cabos eleitorais). Já em Pernambuco o governador é de oposição e Bolsonaro fez apenas 33,5% dos votos para presidente.
Bolsonaro estaria tentando semear votos num local em que foi derrotado? Fosse exclusivamente política a decisão, sim. Mas não parece ter sido. Apuramos que a maioria dos 16 generais que opinaram sobre onde deveria ser a sede da ESA escolheram Recife. Improvável que tenham feito isso por pressão do presidente. A justificativa, acatada, é de que o Nordeste não recebe há quase quatro décadas um novo empreendimento militar. A academia deve ter 4 mil integrantes, entre professores e alunos. É um grande atrativo. Além disso, prestigia uma região que não tem sido considerada estratégica pelas Forças Armadas.
Os quartéis no país estão muito concentrados no Sul e Sudeste. Há uma política de gradual descentralização. O Comando de Mísseis e Foguetes, por exemplo, foi deslocado em 2020 do Rio Grande do Sul para Goiás. Anos atrás, o 17º Batalhão de Infantaria de Cruz Alta (RS) foi transferido para Tefé, no Amazonas, onde virou 17º Batalhão de Infantaria de Selva. É dentro desse espírito de deslocamento militar para áreas menos cobertas que se insere a decisão sobre a nova Escola de Sargentos. Nada que console, infelizmente, as autoridades gaúchas.