O comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, está numa saia justa. Precisa punir de alguma forma o seu colega, general Eduardo Pazuello, por ter participado de um passeio de moto em apoio ao presidente Jair Bolsonaro. E, mais que isso, subido num palanque de showmício no último domingo (23). Pelo regulamento das Forças Armadas, é vedado ao militar da ativa o engajamento em manifestações político-partidárias.
O ex-ministro da Saúde Pazuello, em sua defesa, diz que agiu como cidadão, não como general – como se fosse possível dissociar sua imagem de farda daquela que exibiu no palanque presidencial. Ele ainda alega que, como Bolsonaro não está filiado a alguma legenda partidária, o ato não foi político. Cabe perguntar aos seguidores do presidente: aquele ato não era político?
Mas essa é a defesa de Pazuello.
Integrantes do Alto Comando do Exército fazem reuniões virtuais toda semana, às vezes mais de uma. Sondamos alguns generais e eles são taxativos: é preciso punir Pazuello, para mostrar que as Forças Armadas não obedecem a critérios político-partidários. Um dos que fala isso, aliás, é ninguém menos que o vice-presidente, general Hamilton Mourão. Ele só se aventurou na política eleitoral após ir para a reserva (foi eleito na primeira tentativa) e defende sanções a militares da ativa enfeitiçados pelo canto das sereias partidárias.
Acontece que esse não é o pensamento de Bolsonaro. Em live na quinta-feira (27), o presidente defendeu o direito de Pazuello de apoiá-lo. Com isso, cria-se um impasse. O comandante do Exército foi nomeado há dois meses, em substituição a um general (Edson Pujol) não tão dócil aos apetites presidenciais. O general Paulo Sérgio será testado em sua fidelidade ao governo, embora em tese só deva obediência às Forças Armadas. Mas quem influencia na escolha dos comandantes é um ex-militar que se tornou político, logo... é provável que desafiar a opinião de Bolsonaro custe ao comandante seu cargo.
De tudo o que está posto, fica a certeza de que Bolsonaro fala sério quando chama os militares de “meu Exército”. Resta saber se o Exército pensa o mesmo.