
O esquema, por si só, já é questionável se for verdadeiro. Presidiários, muitos dos quais condenados a décadas de prisão, são mandados para casa porque alegam doenças que os colocam no grupo de risco para contrair covid-19. Vale, nesse argumento, desde males crônicos (como pressão alta, diabetes, asma) até problemas graves, como câncer.
O certo é que, para eles, significa uma chave para abrir a porta da cela. Esse tipo de alegação permitiu a soltura, por parte de juízes caridosos, de mais de 60 mil presos no país desde o início da pandemia, em maio.
Lógico que muitos presos têm mesmo essas doenças crônicas. Outros simplesmente alegaram os problemas de saúde, foram liberados para ir para casa (prisão domiciliar) e, no espaço de poucas horas, ganharam o mundo. Vários foram presos cometendo novos crimes. Alguns líderes fugiram inclusive para o Exterior.
Mas esse cenário de liberar doentes que usam dessa desculpa para fugir, já se sabe, tem sido ainda pior. Muitos detentos NÃO ESTÃO DOENTES e são liberados. É que apresentam falsos atestados médicos aos juízes, que, condoídos, atendem ao pedido de soltura.
Na manhã desta segunda-feira (7), a Polícia Civil realizou nova operação contra defensores de presos suspeitos de forjar documentos nos quais inventam doenças dos seus clientes criminosos. É a terceira ação policial deste tipo desde o início da pandemia, no Rio Grande do Sul. Nas outras duas, dois advogados foram detidos.
Os policiais possuem gravações nos quais os próprios criminosos indicam a outros bandidos qual advogado pode providenciar atestados e quanto eles cobram pelo serviço. É por aberrações desse tipo que muita gente têm dificuldade de aceitar que presidiários tenham direitos de viver em um ambiente humano, ainda que atrás das grades.