
Nessa data em que se completam três anos da invasão russa à Ucrânia, a sorte parece ter abandonado de vez o governo ucraniano. O respaldo político dado pelo presidente norte-americano, Donald Trump, ao russo Vladimir Putin em sua política expansionista é taxativo. O governo dos EUA já declarou que não pretende colocar mais um centavo sequer de ajuda ao presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Pior: cobra com juros e dividendos os bilhões de dólares investidos até agora.
É até provável que seja um exagero retórico de Trump e a ajuda em dinheiro enviada por seus antecessores à Ucrânia não seja realmente demandada. Talvez queira apenas garantir para empresas dos EUA um naco nos contratos que os russos almejam explorar após conquistarem a região leste ucraniana, rica em minérios. Mas é um recado claro. Na tentativa de cumprir a promessa de pôr fim aos três anos de guerra, o presidente norte-americano resolveu culpar os ucranianos pela invasão que sofreram.
Zelensky tentou durante três anos convencer parceiros mais fiéis, os europeus, a enviarem tropas para ajudá-lo. Não conseguiu, já que a Ucrânia não pertence à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que faz a defesa militar automática de qualquer de seus membros. Bem que os ucranianos tentaram, mas não conseguiram a adesão e tudo indica que jamais conseguirão. As democracias liberais europeias não estão dispostas a sacrificar uma geração de jovens em prol de uma nação que até pouco tempo orbitava em torno da Rússia, embora contra a vontade da maioria da sua população. No fundo é encarada como uma briga de eslavos, que os demais europeus parecem não querer comprar.
Os europeus até que enviaram armamentos e dinheiro para a causa nacionalista ucraniana. De forma disfarçada, também foram mandados soldados, com brigadas de voluntários ocidentais (chamados por Putin de "mercenários"). Tudo isso está agora ameaçado pela reviravolta na política externa norte-americana.
Além das sucessivas derrotas políticas, os ucranianos têm sofrido reveses militares. Está praticamente consolidada a ocupação russa das principais províncias do leste da Ucrânia, não por acaso as mais simpáticas à Rússia. Os russos tomaram praticamente 1/5 do território ucraniano. Os ucranianos, por sua vez, ocupam a província russa de Kursk, como trunfo para uma possível negociação territorial, mas sofrem baixas a cada dia para manter essa ocupação.
As fichas estão contra Zelensky, que no domingo (23) se ofereceu para deixar o governo, caso isso contribua para o final da guerra. Foi a primeira vez em que acenou com esse gesto, mas condicionou à adesão da Ucrânia à Otan. A verdade é que, por mais heroica que seja sua resistência, o dirigente ucraniano está num impasse. A matemática está contra ele: faltam ucranianos para repor as tropas governamentais, legiões de mutilados desafiam a resiliência da nação e até munição vai escassear, com o corte do apoio norte-americano.
É provável que além de aceitar a ocupação eterna do leste do seu país pelos russos, ele tenha de procurar um lugar seguro para morar. Putin tem fama de mandar eliminar os que o desafiam.