Um boato sacudiu a cúpula da caserna no final de semana: o de que o ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, seria designado para o comando do Exército. Entraria no lugar do general Edson Pujol, gaúcho.
A motivação, caso ocorresse a mudança, seria simples: movimentação do presidente Jair Bolsonaro, desejoso de colocar naquela força armada alguém mais afinado com o governo. O general Pujol, desde que assumiu, faz questão de manter certa distância entre Forças Armadas e os ocupantes de cargos no Palácio do Planalto. Ele chamou a pandemia, por exemplo, de “maior desafio da nossa geração”, enquanto Bolsonaro definiu o advento do coronavírus como “gripezinha”.
Até hoje a orientação no comando dos quartéis é de que militar que assuma cargo no governo civil não volte a ser militar. O general Ramos é uma rara exceção: ainda está na ativa, apesar de ser ministro. E por isso até poderia vir a ser comandante do Exército. Seria, possivelmente, uma correia de transmissão do Planalto para dentro dos quartéis, o fim de certos meios termos.
O apoio total das Forças Armadas é ambicionado pelo presidente da República, pressionado por sucessivas derrotas jurídicas no Supremo Tribunal Federal e políticas no Congresso. Assegura que já conta com esse suporte, em discursos perante apoiadores que desejam o fechamento do STF. Mas muitos generais, mesmo que tenham votado em Bolsonaro, torcem o nariz para essa imagem de bicho-papão que pode lhes ser colada.
Pelo sim e pelo não, o general-ministro Ramos nega peremptoriamente que vá comandar do Exército. Fez isso de viva voz e também em carta aos colegas que com ele se formaram em 1979 na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), maior ninho de generais no Brasil. O colunista teve acesso ao documento. Ele repudia notícias de que o presidente da República estaria com ideia de trocar o Comandante do Exército “e o nome do substituto seria o meu!!”.
Ramos assegura que em nenhum momento o presidente ou o Ministro da Defesa sequer aventaram essa ideia. O general diz que não houve e não haverá essa hipótese, em respeito a tudo que ele crê e defende desde 1973, quando entrou para o Exército.
“Sem mencionar que seria desonroso para mim e total quebra dos valores que todos nós cultuamos , como antiguidade e merecimento!”.
Explicação necessária: a tradição, no Exército, é de que o comandante seja um dos mais antigos entre os generais, o que não é o caso de Ramos.
O resumo de tudo isso é que as Forças Armadas brasileiras – ao contrário do chavismo venezuelano – ainda fazem questão de manter separação formal em relação ao Planalto. Pelo menos, por enquanto.