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O Brasil se preparava para sediar os Jogos Olímpicos de 2016 quando, em julho daquele ano, a Polícia Federal surpreendeu o país ao anunciar o desmantelamento de uma rede de terroristas simpáticos ao Estado Islâmico — a maior e mais cruenta organização terrorista do mundo, naquela época. Dezenas de pessoas, em sua maioria jovens, trocaram milhares de mensagens nas quais cogitavam eliminar, em território brasileiro, judeus, islamitas de seitas minoritárias e turistas de países que participariam da Olimpíada do Rio.
Não se sabe se de fato agiriam, até porque foram presos antes de concretizar as ações. Mas planos não faltavam. A PF interceptou mensagens e imagens trocadas que surpreenderam até os mais experientes policiais. Alguns dos extremistas falavam em usar armas químicas nos jogos do Rio. Prometiam fazer um pogrom (limpeza étnica) contra os kaffir (infiéis), incluindo muçulmanos xiitas e americanos. Teciam planos de contaminar as águas de uma estação de abastecimento no Rio. Comemoravam e trocavam entre si fotos de mutilações cometidas pelo EI e juravam que fariam o mesmo. Ensinavam a fazer bombas recheadas com vidro, para causar mais dor. Pregavam degola e guerra civil no Brasil.
Foi isso que convenceu o juiz Marcos Josegrei da Silva, titular da 14ª Vara Federal de Curitiba, a ordenar a prisão de 12 integrantes do grupo extremista brasileiro (os mais ativos na internet) às vésperas da Olimpíada. Outros quatro seriam capturados dias depois.
Desses, oito acabaram condenados a penas que variam de cinco a 15 anos de prisão. Outros seis serão julgados em breve.
Pois agora essa história virou livro. Será lançado nos próximos dias, pela Editora Novo Século, a obra Operação Hashtag — A primeira condenação de terroristas islâmicos na América Latina. É leitura rápida, 176 páginas escritas por um dos delegados que, desde Brasília, analisou a ação contra os aspirantes a terrorista, o gaúcho José Fernando Moraes Chuy.
Radicado em Brasília, Chuy atua na Diretoria de Inteligência Policial da PF. O livro é adaptação da tese de mestrado que ele fez em Portugal. Na obra, ele faz detalhada comparação entre as leis antiterrorismo da Espanha, Portugal e Brasil (essa, recentíssima).
O livro é, sobretudo, uma dissertação sobre o arcabouço jurídico dos países ocidentais para lidar com uma das mais insidiosas e sofisticadas pragas modernas, o terrorismo. Mas também aborda aspectos práticos do terrorismo contemporâneo, sobretudo os envolvidos na Operação Hashtag, que neutralizou o principal núcleo de apoiadores do Estado Islâmico na América Latina. Como diz o juiz Marcos Josegrei, no prefácio da obra: não é preciso concretizar a ação terrorista para ela ser configurada. Basta o preparativo. Foi com base nisso a condenação, como mostra o livro de Chuy. A obra será lançada dia 13 de maio, em Brasília.