A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
![Emílio Pedroso / Agencia RBS Emílio Pedroso / Agencia RBS](https://www.rbsdirect.com.br/filestore/5/9/2/0/4/1/5_5ba0026716e46c0/5140295_9e5d3c651438f52.jpg?w=700)
Em meio ao retorno de casos de influenza aviária, peste suína africana e febre aftosa pelo mundo, um dos responsáveis por manter o rebanho gaúcho longe de doenças como essas completou, neste mês, 20 anos de existência. É o Fundo de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal do Rio Grande do Sul (Fundesa), que, neste período, funcionou como um canal, conectando a esfera privada e a pública, para aprimorar as condições do serviço veterinário oficial.
Para marcar a data, o Campo e Lavoura da Rádio Gaúcha conversou, neste domingo (9), com Rogério Kerber, presidente do fundo. Ao programa, ele falou sobre a história da instituição, o status sanitário gaúcho e os desafios futuros da sanidade animal. Confira trechos da entrevista abaixo.
![Claudia Ryff Fotografia / Divulgação Claudia Ryff Fotografia / Divulgação](https://www.rbsdirect.com.br/filestore/9/7/1/9/3/1/5_fd0cfe427121d54/5139179_e7a41062497ed01.jpg?w=700)
Qual é a origem do Fundesa? O que ele tem de diferente em relação a outros fundos do agronegócio?
Há 20 anos, os setores de produção da avicultura, suinocultura, pecuária leiteira e pecuária de corte decidiram trilhar um caminho em busca da constituição de um fundo público. Na época, o Ministério de Agricultura orientou que se constituísse um fundo que fosse além da gestão de recursos financeiros, necessária para a realização do pagamento de indenizações (feitas em caso de abate sanitário, procedimento em que se sacrifica animais doentes ou suspeitos de doença para proteger a saúde pública e a sanidade dos rebanhos). O Fundesa foi constituído, então, por um formato que é único ainda hoje no Brasil. Tem a participação das quatro principais atividades de produção de proteína animal.
A gestão é privada, mas existe um recolhimento que faz o caixa desse fundo? Como é que funciona?
Existe um recolhimento a partir da isenção concedida pelo Estado de uma contribuição tanto de parte do produtor, quanto de parte das indústrias. Essa contribuição foi sugerida pelos setores produtivos como uma obrigação tributária e, na época, tinha como objetivo a compulsoriedade do recolhimento de todos os produtores e de todas as agroindústrias. No caso das agroindústrias, porque são peças importantes na estruturação do recolhimento das contribuições.
O senhor disse que o Fundesa tem um papel que vai além das indenizações. Mas, no começo do fundo, em meio à detecção de casos de febre aftosa no Estado, surgiu com esse propósito, certo?
Sim, só que a discussão, na medida em que o Fundesa foi sendo planejado, foi de não só administrar, mas, sim, de, principalmente, fortalecer o sistema de defesa sanitária. O Rio Grande do Sul teve uma experiência muito traumática em 2000 e 2001, com os eventos de febre aftosa. Na oportunidade, impactou o produtor e a economia dos municípios e do Estado, com a suspensão de exportação de carne bovina. Então, a ideia foi a de trabalhar no sentido de evitar que ocorresse, novamente, um cenário parecido. Trabalhar preventivamente, investindo em capacitação dos técnicos públicos e privados e na estrutura da defesa sanitária animal. E, evidentemente, com o passar dos anos, em uma grande parceria com a Secretaria Estadual da Agricultura, fomos criando todas as condições para que tivéssemos aqui no Estado um serviço veterinário oficial com um desempenho extraordinário. Há exemplos agora, mais recentemente, de focos de influenza aviária e da doença de Newcastle, quando houve os problemas, mas, o serviço oficial trabalhou de forma muito eficiente a ponto de, hoje, estar tudo sanado e, praticamente, com todos os mercados recuperados.
Qual é, hoje, o papel do Fundesa? E qual é o segredo para se chegar em 20 anos de atuação com uma percepção muito positiva do setor?
O Fundesa não faz nada de extraordinário. Quando foi constituído, foi feito um planejamento estratégico com metas definidas. E uma delas é a informatização do sistema de defesa sanitária. Com o passar do tempo, se percebeu que não seria mais possível continuar fazendo as mesmas coisas das formas como vinha se fazendo, porque a produção aumentou, se modernizou, a participação nos mercados também passaram a ter critérios diferenciados. É nesse sentido que o Fundesa vem trabalhando. Hoje, dois setores, a avicultura e a sunicultura, estão com todos os seus procedimentos informatizados, saíram da era do papel.
E arrisco dizer que o Brasil é o país que tem a melhor condição sanitária do mundo. Nós temos aí a influenza aviária afetando vários países, inclusive agora recentemente os Estados Unidos, o México, a peste suína africana na Europa. A própria febre aftosa retornou depois de 37 anos na Alemanha. E é fundamental que nós tenhamos essa percepção clara de que nós temos uma responsabilidade. Afinal, o Brasil é um grande produtor de proteína animal.
E, olhando para os próximos 20 anos do Fundesa, como o senhor resumiria o futuro desse fundo?
O futuro do Fundesa está traçado de forma bem clara. E é ter um serviço veterinário oficial capaz, eficiente, ágil, com credibilidade e na linha de buscar o fortalecimento da defesa sanitária animal. Porque o que se percebe, no mundo todo, onde entra alguma doença, o impacto é enorme.