Ao assumir o comando dos Estados Unidos para um segundo mandato, o republicano Donald Trump reforçou, em seu discurso, questões que deverão nortear as ações nos próximos quatro anos — e que também mexem com o agronegócio. Fora, mas também dentro de casa. Na maioria pró-Trump, os produtores americanos olham com atenção para medidas que têm potencial impacto sobre o setor. A começar pela prometida guerra comercial com a China.
Na gestão anterior, o embate entre as duas potências gerou retaliações, causando efeitos nas exportações de produtos importantes da pauta, como a soja, por exemplo. Pesquisadora da Universidade de Illinois e extensionista agrícola do FarmDoc, Joana Colussi observa que os agricultores americanos se dizem agora “mais preparados” para um segundo capítulo do embate com a China. Os EUA vêm diversificando mercados e aumentando o consumo doméstico.
No apetite dentro de casa há, no entanto, um ponto de atenção, justamente porque a maior demanda interna está ligada à indústria de biocombustíveis, o que também pode ficar ameaçado diante da política de Trump.
— Apesar desses esforços recentes para ampliar as vendas para parceiros menos tradicionais, a China se mantém como o principal mercado para os agricultores americanos. Uma nova guerra comercial também pode fazer a China fortalecer sua relação comercial com o Brasil — acrescenta a pesquisadora.
Apesar de os EUA estarem recuperando a fatia de soja exportada para o país asiático nos últimos anos, o percentual ainda é inferior ao do período pré guerra comercial com a China. Em 2016, era de 62%, em 2018 caiu para 18% e, entre janeiro e novembro do ano passado, alcançava 52%.
Também vale lembrar que, no capítulo anterior da disputa, o governo americano injetou uma grande soma de recursos para compensar as perdas geradas aos agricultores. Dados do Departamento de Agricultura dos EUA mostram que entre 2018 e 2020, o Programa de Facilitação de Mercado liberou US$ 23 bilhões.