Permitir o uso do Fundo de Garantia por Tempo de Serviços (FGTS) para comprar carro zero é uma das propostas das montadoras para reativar o setor, que está com oito fábricas paradas no país. A medida, porém, é duramente criticada pelo presidente do Instituto Fundo de Garantia do Trabalhador, Mario Avelino. Confira o que ele disse ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha:
"Eu, particularmente, sou 1.000% contra. Primeiro, o fundo de garantia foi criado - e a lei é muito clara -, para ser investido socialmente em habitação popular, saneamento básico e infraestrutura. Então, nós estamos tirando dinheiro da população carente para que o cara que tem muito dinheiro, que é uma minoria, pegue o dinheiro para comprar um carro novo para o filho dele. Isso é totalmente fora de contexto, na minha opinião. É desvirtuar o investimento social para o investimento da indústria. E eles ainda vêm com a desculpa de que vai manter emprego. Negativo. O fundo de garantia é tão virtuoso que anualmente injeta na economia brasileira R$ 200 bilhões. Como? Em média, R$ 80 bilhões são investimentos aprovados para habitação popular, saneamento básico e infraestrutura e R$ 120 bilhões são sacados todo ano pelo trabalhador que é demitido, que se aposenta, tem o saque-aniversário e outras modalidades. Então, se nós começarmos a desviar o fundo para fins que não são sociais... Para dar uma ideia, existem projetos no Congresso para comprar geladeira e fogão com o fundo de garantia. Até para bicicleta. É uma viagem surreal, para não dizer outra palavra. Quem vai sacar dinheiro é quem tem grana, 68% das contas no fundo de garantia têm saldo médio de R$ 1,2 mil. Em contrapartida, 0,21% das contas têm saldo médio acima de R$ 299 mil. Se o governo aceitar, é ceder ao lobby da indústria automobilística, prejudicando a população mais carente. Vai faltar dinheiro para obras de saneamento básico e infraestrutura, água e esgoto para diminuir doenças, para obra de infraestrutura urbana, habitação popular, o Minha Casa Minha Vida, que beneficia, principalmente, a população de baixa renda. É pegar dinheiro do pobre para dar para o rico. É isso que estão querendo."
Ouça a entrevista na íntegra:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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