No Brasil desde 2015, a fabricante de painéis solares e de ônibus elétrico BYD, com sede na China, começou a comercializar automóveis elétricos no país em 2021. De lá para cá, investiu na ampliação da rede de concessionárias e trouxe linhas de carros com duas faixas de preço para as estradas brasileiras. No mercado gaúcho, entrou por meio de uma parceria com o Grupo Iesa. A primeira loja fica em Porto Alegre, e outras duas já estão garantidas, uma em Caxias do Sul e outra em Passo Fundo. Em entrevista à coluna durante um evento da empresa em Campinas (SP), o diretor de vendas do braço automotivo da BYD no Brasil, Henrique Antunes, antecipou que também estudam abrir operações em Santa Maria, Pelotas e Canoas. Ele diz que o mercado do Sul tem uma “receptividade interessante” a veículos elétricos por conta de uma boa infraestrutura de abastecimento.
Por enquanto, todos os carros vendidos pela BYD são importados da China, mas o cenário pode mudar em breve. No ano passado, a empresa assinou um protocolo de intenções com o governo da Bahia para a implantação de três fábricas, uma delas de veículos de passeio elétricos e híbridos. O investimento total seria de R$ 3 bilhões e a unidade fabril de carros ficaria na antiga planta da Ford em Camaçari. No início do ano, porém, as negociações travaram, e o governo federal entrou na jogada, conversando com os empresários chineses durante a visita que fez ao país asiático em abril.
Perguntado se há outros Estados em vista para instalação da fábrica, Antunes disse que, hoje a principal segue com a Bahia. "Porém, até o contrato estar assinado, o futuro a Deus pertence”, completou.
Confira trechos da entrevista:
No Rio Grande do Sul, vocês têm concessionária em parceria com o Grupo Iesa. A primeira loja abriu em Porto Alegre. Quais são as próximas?
Isso. O Grupo Iesa, pela sua tradição e confiabilidade no Estado, foi eleito o nosso parceiro. Inauguramos a revenda de Porto Alegre. Já está em preparação a revenda de Caxias do Sul. Vamos ainda para Passo Fundo, e os planos não param por aí, porque queremos ter uma capilaridade em todo Estado. Estamos fazendo análise de mercado, e está no nosso radar Pelotas, Santa Maria e a Região Metropolitana, em Canoas.
Os gaúchos estão procurando por veículos elétricos?
A receptividade dos gaúchos para o carro elétrico é bem interessante. No Sul e no Sudeste, temos uma melhor infraestrutura de carregamento, o que dá maior segurança para se investir em um carro elétrico. E o fato de estarmos atrelados ao grupo Iesa, que tem forte credibilidade no Estado, ajuda.
A infraestrutura é um dos principais desafios para os carros elétricos ganharem escala. Quais os outros?
Quando a gente fala de infraestrutura de abastecimento, é um problema muito mais cultural do que de disponibilidade. Claro que ainda há alguns gargalos, mas 80% do uso de um carro elétrico, você resolve carregando em casa. O maior desafio que temos hoje é aculturar, explicar para as pessoas como funciona um carro elétrico. Mostrar que a bateria não acaba em dois ou três anos. E outro ponto é de disponibilidade de produto, que já está sendo resolvido. Há dois anos, não existia carro elétrico por menos de R$ 500 mil. Era carro da classe muito alta. Hoje, já existe por R$ 150 mil.
Quais são as faixas de preços da BYD?
Hoje a gente trabalha com duas faixas de preço. A primeira é com veículos acima de R$ 500 mil. São de luxo, grandes e com alta potência. A segunda faixa é de R$ 269 mil para dois modelos, um híbrido e um 100% elétrico.
Na hora que vocês vendem o veículo, já oferecem a instalação de sistemas fotovoltaicos?
No evento, lançamos a plataforma que vai possibilitar que, na própria revenda, quando o cliente for comprar um veículo, ele consiga fazer a simulação de contrato para um sistema solar em sua casa, com ponto de recarga.
Qual é o tempo é de autonomia dos veículos da empresa hoje?
Varia muito de acordo com a capacidade da bateria e da potência do carro. Na média, os nossos carros têm 400 quilômetros de autonomia. E um tempo de recarga mínimo em que 20% a 80% do veículo é carregado em 30 minutos. No carregador convencional, em torno de 8 horas.
Há interesse de abrir uma fábrica de carros elétricos no Brasil?
Essa é uma intenção real da BYD. Nós já temos, através da matriz chinesa, os recursos disponíveis para fazer esse investimento. Estamos em negociação com alguns Estados para instalar a indústria. Esperamos fazer essa oficialização em breve.
Foi divulgado um termo de compromisso com o governo da Bahia para construir a fábrica lá, onde antes havia a indústria da Ford, com um investimento de R$ 3 bilhões. É lá mesmo que vocês pretendem construir? Há interesse, eventualmente, em construir uma fábrica no Rio Grande do Sul?
As coisas só estão fechadas quando o contrato está assinado. Mas sim, hoje a nossa principal discussão sobre uma fábrica está com o estado da Bahia. Porém, como eu te disse, até o contrato estar assinado, “o futuro a Deus pertence”.
Com produção local, cai o preço do veículo?
Com certeza. Porque a produção local está avistando um crescimento de volume de vendas. E isso está conectado ao preço. Quando você tem uma escala de produção, tem uma redução no preço. Além disso, pode criar um produto específico para determinado mercado.
Ouça a entrevista na íntegra:
A coluna viajou a Campinas a convite da BYD do Brasil.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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