
Pela primeira vez na vida, o presidente Lula observa — aparentemente atônito — o Brasil apertar o botão do alarme. Não que o barulho tenha começado agora, mas há momentos em que o incômodo vira consenso. A mais recente pesquisa Datafolha mostra que 55% dos brasileiros acham que a economia piorou nos últimos meses. Enquanto presidente, Lula nunca tinha visto o indicador ultrapassar a metade da população. Mas o número que realmente aperta o peito vem depois: 36% acreditam que a situação ainda vai piorar. O pessimismo, nesse país de esperançosos, virou política pública involuntária.
O que a estatística revela, o povo já vinha sussurrando nos corredores do mercado. A gente ouve nos caixas, nas filas, no estalo seco do "não vai dar" diante da prateleira. O brasileiro está fazendo conta na ponta do lápis. O governo federal, no entanto, parece ter colocado todas as fichas em delírios travestidos de soluções.
A esperança da equipe econômica reside naquele empréstimo consignado criminoso que usa o FGTS como garantia. O mesmo FGTS que é seu, mas que você não pode usar — a menos que queira se endividar mais. A lógica é absolutamente torta, já que transforma o que era proteção em armadilha.
Enquanto isso, as prioridades se embaralham. O presidente quase não fica no país, mas as estatais estão bem presentes — especialmente nos eventos da primeira-dama, Janja da Silva, que já custaram mais de 80 milhões de reais aos cofres públicos. Enquanto isso, o povo troca a marca do café, deixa o bife para depois, abandona sonhos em nome de necessidades. E não é só o eleitor adversário que reclama: muita gente que votou com esperança hoje caminha cabisbaixa, com a frustração de quem percebeu que a mão estendida virou ombro virado.
O governo governa como se ainda estivesse numa sala de reunião, passando slides, construindo frases de efeito, achando que discurso bonito preenche prato vazio. Mas a realidade não aceita PowerPoint. O feijão está caro. A gasolina, também. E o otimismo, esse artigo cada vez mais escasso, já saiu da lista de prioridade há muito tempo.