
A sexta-feira chegou e, com ela, aquela vontade coletiva de respirar fundo, dar uma pausa e, quem sabe, repensar. Porque às vezes, recuar é o ato mais corajoso que se pode ter. Não é covardia, não é fraqueza, nem rendição. É estratégia, lucidez. E, acima de tudo, humanidade.
Vivemos num tempo em que mudar de ideia virou sinônimo de fraqueza moral. Mas e se, em vez disso, a gente passasse a admirar quem tem a humildade de dar um passo atrás quando percebe que o caminho à frente é um precipício?
Foi o que vimos, ainda que a contragosto, com o ex-presidente americano Donald Trump. Depois de ameaçar o mundo com um tarifaço tresloucado, teve que suspender sua medida por pelo menos 90 dias. Não por generosidade — Trump raramente se move por essa via —, mas por pura e simples lógica comercial. O recuo, nesse caso, foi menos sobre princípios e mais sobre sobrevivência, mas ainda assim, vale como exemplo: há, nos Estados Unidos, quem lute para manter um mínimo de previsibilidade no jogo. E isso importa. Porque o sinal de alerta soou forte quando o mundo começou a considerar a China mais confiável do que os EUA. Olha o nível.
Já por aqui, em terras tupiniquins, tem gente que parece não entender a diferença entre firmeza e teimosia. O prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga, influencer, tiktoker e, agora, pré-candidato à presidência (por que não?), recebeu a visita da Polícia Federal e, sem pensar duas vezes, correu para as redes para culpar o governo Lula. O detalhe é que a investigação que motivou a operação começou em 2022, quando Lula ainda estava longe do Planalto. Não recuar, nesse caso, é desonestidade intelectual. É usar a própria ignorância como ferramenta política.
E, por fim, olhemos para dentro de casa. A colega Juliana Bublitz trouxe hoje em Zero Hora a notícia de que o governador Eduardo Leite considera trocar a secretária de Cultura, Beatriz Araujo, na próxima reforma do secretariado. Uma decisão difícil, sem dúvida, já que Beatriz está no cargo desde 2019, tem quatro décadas de experiência na área, e é da cota pessoal do governador, trabalha com ele há pelo menos 15 anos. Uma gestora apaixonada pelo que faz, com trajetória sólida. Substituí-la por um deputado que entende de administração, mas não de cultura, pode até ser justificável pela tal da governabilidade, mas não deixa de ser um retrocesso.
Seria bonito ver Leite recuar também nesse ponto. Porque tem recuos que não diminuem ninguém. Ao contrário: elevam. Talvez esse fosse o recuo mais nobre do ano.