
O Brasil tem memória curta. Ou talvez seja só excesso de informação. Escândalos vêm e vão, engolem reputações, levantam suspeitas e, com a mesma velocidade, somem do noticiário e das redes sociais. Quem lembra do ministro Silvio Almeida?
Seis meses atrás, ele era um dos intelectuais mais respeitados do país, com um cargo de destaque no governo e uma carreira que mesclava direito, filosofia e política. Até que veio a tempestade: denúncias de assédio sexual e moral, manchetes carregadas de indignação e o nome dele jogado na fogueira pública sem muitos questionamentos.
A principal acusação veio de uma ONG influente, a Me Too Brasil, que teria sido procurada por mulheres denunciando supostos abusos cometidos pelo ministro. Entre os nomes citados, o da ministra Anielle Franco surgiu como a mais proeminente das vítimas. O escândalo explodiu e Almeida caiu.
Mas agora, meio ano depois, uma reviravolta discreta, quase sussurrada, começa a questionar tudo aquilo que parecia certo. A jornalista Adriana Negreiros, do UOL, especialista na cultura da violência de gênero no Brasil, revelou que a ONG demorou cinco meses para apresentar um relatório sobre as supostas denúncias à Polícia Federal. E o que chegou às mãos dos investigadores foi um documento de duas páginas, com relatos de cinco mulheres — todos feitos após a explosão do escândalo inicial. Sem nomes, sem detalhes, sem as certezas que antes pareciam tão inabaláveis.
E assim, o que antes era uma condenação social quase unânime, agora se enche de lacunas. Por que a demora da ONG? Por que as denúncias surgiram depois que o caso veio à tona? Tem algum fio de interesse político nessa trama? Almeida, antes de cair, acusou a Me Too de tentar interferir em uma licitação da sua pasta.
A verdade é que histórias como essa seguem um roteiro bem conhecido: a explosão, a repercussão e, por fim, o esquecimento. Enquanto isso, questionar a culpa de Almeida, que teve sua vida devassada e sua reputação arruinada, é um convite a ser acusado de uma miríade de absurdos pelas correntes mais radicais de pensamento. É cansativo, até.
O que acontece quando, depois da poeira baixar, descobrimos que talvez a justiça tenha sido apressada demais? Quando os holofotes já mudaram de direção e o veredito popular já foi dado? Talvez seja cedo para conclusões definitivas, mas uma coisa é certa: neste país de escândalos efêmeros, a verdade nem sempre tem pressa para aparecer. As vezes ela sequer aparece. E os juízes virtuosos da opinião pública seguirão dormindo tranquilos porque sequer se lembram do que fizeram.