
A expressão alemã zeitgeist significa “espírito do tempo”. É um conceito que se refere a um conjunto de ideias que caracterizam uma determinada época. O que definiu a Renascença, por exemplo, foi o humanismo, a perspectiva artística. Já o zeitgeist dos anos 60 foi marcado pela contracultura, pela luta pelos direitos civis e pelo desejo de liberdade. Hoje, o que define o espírito do nosso tempo é a falta absoluta de limite para duas características muito perigosas: a ignorância e a estupidez. Ambos os predicados levam, inevitavelmente, a algo ainda mais perigoso: o radicalismo.
É a intransigência de pensamento que faz com que um cidadão incauto dos rincões do país aplauda as intenções do presidente americano, Donald Trump, de aumentar os impostos de importação de produtos brasileiros. É a turma do “quanto pior, melhor”.
É este mesmo raciocínio curto que faz com que um militante de inteligência platônica conhecido como “chavoso da USP”, seja lá o que isso quer dizer, se ache no direito de agredir cidadãos israelenses que portavam uma bandeira de seu país enquanto festejavam o carnaval em Salvador. O nível de distopia é tamanho que o sujeito divulga o crime cometido como um ato de coragem, como se soubesse pelo que está lutando.
É por conta deste talento em transformar o óbvio em um desafio intelectual, também, que a militância progressista do nosso país não faz alarde nenhum quando o deputado André Janones (Avante-MG) assina um acordo com a Procuradoria-Geral da República para devolver R$ 131,5 mil aos cofres públicos em troca do fim das investigações pela prática de “rachadinha”.
É por causa dessa perspicácia rara, no sentido mais estatístico do termo, que nós nos condicionamos a achar normal a notícia de que o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), vai lançar sua pré-candidatura à Presidência em 2026 com o cantor sertanejo Gusttavo Lima como companheiro de chapa.
O grande mal do nosso tempo está na resiliência intelectual dos idiotas: não importa quantos fatos sejam apresentados, escancarados até, suas interpretações continuam inabaláveis pela realidade. Suas linhas de raciocínio são verdadeiras homenagens à ousadia, pois desafiam não apenas a lógica, mas também a paciência e elasticidade moral de quem tenta acompanhá-las com um mínimo de honestidade.
O único radicalismo ao qual permito-me entregar é o da felicidade e realização. E é a este sentimento que estou radicalmente entregue na estreia desta coluna na edição de fim de semana de Zero Hora. A partir dos próximos dias, também passo a publicar textos diários no site de GZH e a participar, também diariamente, da programação matutina da Rádio Gaúcha, onde você poderá acompanhar meus comentários no Gaúcha Hoje. A vida presta!