
Desde os ataques brutais do Hamas em 7 de outubro de 2023, o mundo voltou a olhar para o Oriente Médio com um interesse renovado — e enviesado. As discussões sobre a resposta israelense na Faixa de Gaza têm sido intensas, com muitas vozes apressadas em classificar as ações de Israel como um "genocídio". Mas essa é uma acusação séria e, mais do que isso, juridicamente infundada.
A definição de genocídio, conforme estabelecida pelo direito internacional, é clara: trata-se de ato de violência cometido com a intenção de exterminar, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso. A campanha militar israelense, ainda que violenta e com alto custo humano, não se encaixa nessa definição. Israel não está promovendo o extermínio dos palestinos, está reagindo a um ataque que deixou mais de 1.200 mortos e dezenas de reféns nas mãos de um grupo terrorista. O Hamas não só perpetrou um massacre de civis inocentes como também se esconde deliberadamente entre a população de Gaza, usando-a como escudo humano. Se há alguma campanha de extermínio em curso na região, ela mira justamente o extermínio dos terroristas que sufocam o povo palestino há décadas.
No entanto, a indignação seletiva com Israel e o silêncio sobre outros conflitos expõem uma aviltante hipocrisia. O novo governo sírio, que tomou o poder após a deposição da ditadura de Bashar al-Assad, tem praticado uma limpeza étnica cruel contra drusos, cristãos, curdos e alauítas. Saiu uma ditadura sanguinária, porém laica, para entrar uma ditadura sanguinária regida por milicianos fanáticos jihadistas. Vídeos de militantes do novo regime obrigando vítimas a andar como cachorros, com os joelhos e as mãos no chão, antes de serem brutalmente assassinadas, circulam nas redes sociais mas não geram comoção comparável àquela direcionada a Israel. Não há protestos massivos, não há trending topics exigindo sanções, não há marchas nas ruas das capitais ocidentais e nem alunos de universidades caríssimas dos Estados Unidos incitando uma nova intifada.
A falta de atenção ao massacre na Síria ilustra uma realidade incômoda: a indignação internacional é menos guiada pela gravidade da situação e mais por uma animosidade específica contra Israel. O próprio governo brasileiro, através do Itamaraty, emitiu apenas uma nota tímida sobre os acontecimentos na Síria, expressando "forte preocupação com os incidentes violentos" sem mencionar genocídio ou limpeza étnica. Um contraste gritante com a retórica inflamada que se vê quando o assunto é Gaza.
A máxima "no jews, no news" — ou seja, se não envolve judeus, não vira notícia — se mostra muito verdadeira. Inúmeros daqueles que se dizem defensores dos direitos humanos adotam, na verdade, um filtro seletivo, onde apenas os supostos crimes israelenses — merecem destaque. Enquanto isso, genocídios reais seguem acontecendo no mundo todo — silêncio ensurdecedor sobre o Sudão ou o Congo, por exemplo — sem que a comunidade internacional lhes dedique a devida atenção.
Isso não significa que a guerra em Gaza não mereça críticas. O sofrimento civil na região é real e trágico. Mas distorcer os fatos para encaixá-los em uma narrativa pré-estabelecida antissemita não contribui para a resolução do conflito. O mundo deveria olhar para o Oriente Médio com uma visão mais ampla, enxergando as tragédias em sua totalidade e cobrando coerência daqueles que se autoproclamam defensores da justiça. Caso contrário, o discurso humanitário se torna apenas um instrumento de conveniência política. Defender a justiça e os direitos humanos passa por um caminho diametralmente oposto ao apoio a organizações terroristas e fanáticos religiosos.