
O Ministério Público do RS (MPRS) antecipa possíveis ataques a escolas. Desarma focos juvenis. O que eclode, por mais trágico que seja, é uma parcela minoritária diante das armadilhas desfeitas e de suspeitos detidos. Só que nunca ficamos sabendo.
Em 2024, o MPRS organizou o Núcleo de Prevenção à Violência Extrema e criou a apostila Sinais, para alertar a população de riscos de atentados na sala de aula.
O que faz o adolescente sair da inércia e partir para a tentativa de homicídio de colegas e de professores?
Existem caminhos e indícios.
— Nossa inspiração foi a experiência norte-americana. Traduzimos o Manual do Atirador Ativo do FBI. Quando chegamos a mais de cem casos, fizemos os nossos próprios indicadores — afirma o promotor Fábio Costa Pereira, um dos idealizadores da campanha.
É necessário compreender antes o gap geracional. Trata-se de outra mentalidade, outro software comportamental, diferente da formação dos pais.
A nova geração mistura tudo, numa colcha de retalhos de ideologias. Os jovens são mais avatares do que presenciais, meros visitantes e hóspedes do mundo real. O cibermundo é a sua realidade. O real constante para eles equivale à nossa esporádica virtualidade.
— A geração que chegou, de nativos digitais, assumiu um estado fusional com a tecnologia. A realidade deles é a virtual, enquanto a nossa é a concreta, do que podemos perceber com os sentidos. Não estamos preparados para entendê-los, e vice-versa. É como se eles vivessem em um imenso game — esclarece Pereira.
Tanto que os surtos extremistas na adolescência não apresentam coerência entre si. Só têm em comum a sede cega de vingança.
— Há neonazistas, supremacistas brancos e jihadistas que são negros e pardos — comenta Pereira.
As famílias conseguem identificar anormalidades por meio da mudança abrupta de temperamento, o isolamento férreo e a frequência em determinados grupos de discussão.
São três etapas da radicalização: rejeição de laços anteriores, adesão incondicional a preceitos de um grupo com abandono do juízo crítico, e tradução do ódio em ações irascíveis, como se fossem justificáveis pelo que se acredita ter sofrido na vida.
— É uma desumanização das relações interpessoais, ausência de empatia com a dor alheia e truculência como forma de expressão de suas frustrações — pondera Pereira.
Até o modo de se vestir ou as tatuagens são advertências, caracterizados como preditores estéticos. Adotam-se roupas e símbolos suspeitos, mesmo que seja para chamar atenção. Utilizam-se vestimentas conhecidas como pele ou skin. Empregam-se tons monocromáticos, à semelhança de atiradores de Columbine e Suzano (camisetas, calças, luvas e botas pretas).
O combo que permite o laboratório do mal costuma ser o sentimento de exclusão (não pertencimento ao seu contexto), a crise de identidade (objetivos por um propósito longe do lar) e o bullying (ou como vítima, ou como autor).
Acrescente baixa autoestima, interesse por crueldade e devoção à história de psicopatas.
Coloque ainda no caldeirão uma teimosia inflexível, uma rigidez de opiniões e uma incapacidade de lidar com decepções.
Adicione busca por habilidades de violência, estudos sobre armamentos e militarismo, e pensamentos recorrentes de agressão ou autoflagelação.
Ponha no composto os aditivos da disfuncionalidade familiar, o acesso a armas em casa e a plena aceitação de desvios de comportamento.
E some a isso a criptografia — linguagem cifrada nos fóruns privados —, a aplicação de algoritmos e câmaras de eco e a exclusiva participação em comunidades fechadas.
Não dá para dizer que foi por falta de aviso, de “sinais”.