
Que eu seja espalhafatoso como uma garrafa de champanhe para receber os amigos.
Que eu seja reservado como uma garrafa de vinho para amar a minha mulher.
Que eu respeite opiniões diferentes da minha.
Que eu não tente convencer ninguém a pedir desculpa. Que as desculpas surjam espontâneas.
Que eu peça desculpa antes de gerar mágoa. E antes de a mágoa virar ressentimento. E antes de o ressentimento virar pedra.
Que eu possa pescar almas perdidas com meu abraço.
Que eu transforme bilhetes de geladeira em cartas.
Que eu viaje muito para morrer de saudade de casa.
Que eu puxe conversa com estranhos para nunca mais sermos estranhos.
Que eu amarre os cadarços dos meus pais retribuindo os laços de minha infância.
Que eu procure as estrelas e a lua além dos prédios.
Que eu erre o caminho para descobrir novos roteiros.
Que eu ajude os mais próximos sem questionar.
Que eu ajude as pessoas sem esperar recompensa.
Que eu escute os meus afetos sem condenar.
Que eu não exija demais dos outros.
Que eu não exija demais de mim.
Que eu aprenda a dizer não para valorizar o sim.
Que eu não dependa da devolução dos elogios que dei.
Que eu esqueça o celular carregando na tomada.
Que eu não conte piadas de mau gosto.
Que as minhas risadas sejam para me agradar.
Que eu faça sinal da cruz diante das minhas perdas.
Que eu assobie para esconder a minha timidez.
Que eu não salgue demais a comida, nem salgue de menos a minha existência.
Que eu mande flores com as raízes de minha letra.
Que eu mantenha a tradição de aproveitar o sol para bater os tapetes e lavar os lençóis.
Que eu guarde segredos e não sacrifique a confiança de ninguém
Que eu sussurre por amor, jamais por fofoca.
Que eu me arrepie mais vezes do que no ano passado.
Que eu encontre a humildade das dúvidas, ao invés de falir com a soberba das certezas.
Que eu pergunte com interesse como meus vizinhos estão, não por educação.
Que eu me liberte dos excessos e doe tudo o que não venho usando.
Que eu fale a verdade sem precisar jurar por Deus.
Que eu tenha menos vaidade.
Que eu tenha mais realidade.
Que eu não sinta medo da morte, nem da vida.
Que eu não sofra com o receio de parecer ridículo dançando.
Que eu não brigue com os balconistas por problemas das lojas.
Que eu brinque sem pensar no trabalho.
Que eu trabalhe como quem se diverte.
Que eu use somente as palavras que agreguem sentido.
Que eu prove o brigadeiro na panela.
Que eu aceite os conselhos da intuição.
Que eu coloque a raiva para tomar banho.
Que eu assista a shows dos meus ídolos ao lado dos filhos, que eu empreste o meu passado ao futuro deles.
Que o futebol não termine com o meu domingo.
Que o musgo cresça onde há cicatrizes.
Que as heras cresçam onde há muros.
Que as escadas sirvam também para sentar e olhar tudo o que se andou.
Que eu me levante de bom humor.
Que eu adormeça grato.
Que eu me lembre de ser feliz enquanto ainda estou vivo.