
Na Serra, na noite de quarta-feira (12), uma família inteira acabou dizimada: pai e dois filhos morreram na ERS-446. Jardel Oliveira dos Santos invadiu a pista oposta e bateu frontalmente com um caminhão, provocando seu falecimento e dos seus meninos, os irmãos gêmeos Vicente Oliveira dos Santos e Bernardo Oliveira dos Santos, de seis anos.
Já seria terrível se fosse um acidente, mas pode não ter sido, o que torna a trama insuportável de dolorosa.
Estão sendo investigadas as causas da morte.
Uma das hipóteses é que o pai, de modo deliberado, ceifou a vida de suas próprias crianças como vingança à ex-esposa. Levou os pequenos inocentes para a sua sanha orgulhosa de destruição e retaliação.
A polícia aguarda os resultados da perícia, que vão revelar a velocidade na qual Jardel dirigia o veículo, se existiu tentativa de frenagem e ainda definir se ele estava sob efeito de alguma substância, como álcool ou drogas, no momento do choque.
O cenário inicial indica premeditação. Um pouco antes, houve um incêndio na casa de Jardel, registrado na manhã de quarta-feira. Ele morava em Parobé (RS), no segundo andar de um prédio — mantinha sua vidraçaria no térreo.
Além disso, a mãe dos gêmeos contava com uma medida protetiva contra o ex-marido, que conservava o direito de ver os filhos.
Ele teria adiantado sua visita agendada, pego Vicente e Bernardo no término da escola, na terça-feira (11), por volta das 17h, e combinado de devolvê-los para a mãe no dia seguinte, ao meio-dia, o que não aconteceu. Dali por diante, cortou o contato e não atendeu mais o celular. Apreensiva, temerosa do pior, com a intuição gritando, a mãe dos garotos chegou a fazer uma ocorrência contra ele.
O que gera estranheza é que ele zanzou sem destino com os dois irmãos. Saiu de carro em direção a Bom Princípio. Não tinha nenhuma intenção de conduzi-los a algum lugar específico.
O caminhoneiro relatou que buscou evitar a colisão, mas não conseguiu desviar a tempo, mesmo andando a 60 km/h, dentro do permitido no trecho.
O contexto suscita forte suposição de que Jardel lançou furiosamente seu veículo, com os filhos no seu interior, para uma inescapável fatalidade. O pedal foi seu gatilho na estrada.
Ele sequer lembrou que era pai das suas vítimas? Em nenhum instante, recordou que Vicente e Bernardo eram sangue de seu sangue, espírito de seu espírito? Tamanha a sua obsessão, não se importou com a sua responsabilidade de zelar por aquelas infâncias? Pelo contrário, descaracterizou-as de qualquer humanidade e comoção, de qualquer laivo de pertencimento e apego.
Se comprovada a versão, não há para uma mãe um maior suplício do que ter seus filhos usados, manipulados e assassinados por uma represália. É o estertor da possessividade e do machismo. Algo como: se não quiser ficar comigo, não terá mais ninguém, vou destroçar a sua existência por completo, tudo o que você possui de mais valioso.
Só não chamem de amor. Ninguém mataria meninos indefesos e frágeis por amor. É consequência unicamente do brutal egoísmo do ódio.