A esposa e uma filha de 15 anos passavam tranquilamente as férias em Brasília.
Jamais cogitariam não abraçar mais o marido e o pai.
Daniel Abreu Mendes, 40 anos, estava em serviço. Nesta terça-feira (21), foi chamado para o cumprimento de mandado de busca e apreensão em Butiá (RS), na Região Carbonífera. Um dos alvos da ordem judicial era uma mulher de 26 anos investigada por tráfico de drogas.
O policial não teve chance de reação na pequena moradia de madeira de sala, cozinha e quarto, sendo saudado por uma letal rajada de balas.
Um adolescente de 17 anos, parceiro da suspeita, descarregou em cima dele uma pistola semiautomática que funcionou como uma metralhadora — posto que o autor do homicídio é menor de 18 anos, ao atingir a maioridade, ficará zerado de seus crimes.
Mesmo com o colete à prova de balas, mesmo escoltado por cinco colegas, o agente na linha de frente acabou ferido na lateral do tórax e no pescoço. Não resistiu.
Novamente, um policial é morto em um cenário conhecido, clandestino e reincidente: por um jovem com antecedentes criminais e porte de arma sem registro.
Igualmente, ele é recebido com uma chuva de cartuchos. Assim como aconteceu em 22 de outubro, em Novo Hamburgo (RS), quando tombou desprevenido o soldado da Brigada Militar, Everton Kirsch, que partiu precocemente aos 31 anos, no exercício da função, deixando um bebê de 45 dias.
A patrulha encontrou drogas e armamentos na residência. Na operação, outros oito mandados estavam sendo realizados em diferentes locais de modo simultâneo.
A truculência e a boçalidade não respeitam nada, sequer o anúncio da força policial e o cerco à casa.
Torna-se cada vez mais um hábito recorrente um profissional da nossa segurança sair para uma tarefa e não retornar, gerando pesar e luto entre os companheiros de ofício e de farda.
Não nos damos conta do tamanho do sacrifício desses exemplos, do seu heroísmo anônimo. O juramento de proteger a sociedade é feito das mais difíceis palavras, acima ou contra a própria vida.
O Rio Grande do Sul alcançou em 2024 o seu ano mais seguro da década, mas a que custo? Quantos policiais civis e militares já se viram emboscados?
A repressão vai acumulando baixas inestimáveis.
Daniel não pôde se reunir com a família em Brasília, sua terra natal. Atuando na Polícia Civil há menos de dois anos, como integrante da última turma de concursados, teve experiência na corporação em Tapes, antes de seguir para Guaíba. Na sua involuntária e trágica despedida, colaborava com a delegacia vizinha de Butiá no combate ao tráfico de drogas.
O grupo mais próximo de Daniel o identificava como espirituoso, prestativo e de sorriso abundante. Sabia o momento certo para descontrair ou falar sério, para quebrar o gelo ou se calar. Melhor amigo das dores, oferecia sempre seu colo para confortar perdas.
Aquele que secava as lágrimas é motivo de choro.
Agora, quem vai amparar a sua ausência?