Imagine ficar cinquenta e dois dias sem rir, sem comemorar coisa alguma, sem celebrar. Cinquenta e dois dias triste, cabisbaixo, escutando a felicidade barulhenta dos vizinhos, sem nenhuma novidade, sem nenhuma esperança, no desespero mudo.
Quase dois meses vivendo entre a raiva e a incredulidade.
O estado emocional ultrapassou a melancolia e já pode ser definido como depressão.
Esse é o castigo da presidência do Inter aplicado à torcida colorada, que não festeja uma vitória durante todo esse período.
São doze partidas sem ganhar, com sete empates e cinco derrotas, sendo metade dos confrontos com mando de campo. O Beira-Rio deixou de ser uma vantagem.
Temos o pior ataque do Brasileirão. Temos uma sina de sair na dianteira e levar a virada, ou sair atrás no placar e mergulhar na confusão. Gols são tomados tradicionalmente no fim do primeiro ou segundo tempo.
É o Inter mais monstruoso, esdrúxulo e ineficaz das últimas décadas.
São cinquenta e dois dias de mesmice.
O que assusta é o medo da queda. Estamos a um ponto da forca.
A última vez que Inter passou por jejum parecido foi em 2016, naquele capítulo nefasto da história do clube, quando acabou rebaixado após acumular 14 rodadas sem vencer entre Brasileirão e Copa do Brasil.
O Grêmio, que se manteve quase o campeonato inteiro no Z4, já se encontra em nossa frente.
Nossos compromissos atrasados indicam futuro desperdício de pontuação. Não sairemos do lugar.
Roger Machado, um cidadão do bem, não produziu impacto. Não podemos considerar evolução um histórico amargo de quatro empates e uma derrota. Ele não conheceu nenhum triunfo, jamais provou do sabor de alívio.
Talvez não suporte um mês. Talvez caia, ironicamente, contra o Juventude, de onde foi tirado, numa espécie de carma. Não incide sobre ele a culpa integral, mas parte da culpa, já que errou permitindo os corredores livres para investidas do Athletico.
O time está sendo desmontado no meio do ano: saiu Aránguiz, saiu Vitão, saiu Bustos. Ou seja, vendemos um volante útil, e negociamos o único lateral eficiente e o único zagueiro estável. Ninguém quer permanecer na nau afundando.
Enquanto nos desfazemos de titulares, o nosso rival contrata reforços e acerta pedradas na janela de transferências.
Em uma partida apenas, o dinamarquês Martin Braithwaite já teve mais produtividade no Brasileirão do que o milionário Enner Valencia.
Em uma partida apenas, o colombiano Miguel Monsalve, com dribles e assistências, mostrou mais categoria do que o seu compatriota superfaturado Rafael Santos Borré, que mais se lesiona do que joga.
Mesmo contando com uma semana de treino para uma solitária e folgada competição no calendário, conseguimos agravar falhas defensivas e inoperância ofensiva.
A última vitória ocorreu com o demonizado Eduardo Coudet, no longínquo 22 de junho, no Gre-Nal.
Alessandro Barcellos está nos planejando para a Série B. Não duvide dos sinais. Se ele não entende o que está acontecendo, não deveria estar ali. Se ele entende o que está acontecendo e não faz nada, não deveria estar ali. Corrige erros com novos erros.
Ou ele traz Abel Braga à direção esportiva para substituir Magrão, ou ele vai sujar as mãos cavando a própria cova.