Brincar de esconde-esconde me desanimava.
Nunca entendia o propósito da brincadeira.
Eu tinha que me esconder, mas não perfeitamente a ponto de não ser achado.
Eu dependia de um esconderijo mais ou menos, que não fosse fácil nem insondável. Que a pessoa não me avistasse logo, e tampouco perdesse a vontade de me localizar.
Não poderia ser atrás da porta ou das cortinas, debaixo da cama ou da mesa.
Na verdade, eu precisava ser descoberto com alguma resistência, talvez para sair correndo da minha sombra em vantagem e ganhar a disputa batendo na árvore.
Era uma brincadeira pela metade. Uma brincadeira com alto grau de fingimento.
Lembro que uma vez eu tirei pastas e máquinas de escrever estragadas da estante de cima do armário da lavanderia, e entrei num lugar em que fiquei dobrado, imprevisível para o meu tamanho. Subi até ali com a ajuda da mesa, sem escada aparente para me denunciar.
Desânimo
Opinião
Somos ensinados a ocultar as nossas emoções
A brincadeira de esconde-esconde é uma metáfora pertinente aos relacionamentos
Fabrício Carpinejar
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