A lista tríplice é um falso instrumento da democracia. Na maioria das vezes, a autoridade não leva em conta o primeiro colocado.
Acaba sendo um desperdício de urna. Um fingimento de que todos votaram no melhor candidato. Uma brincadeira de mau gosto de que a voz da maioria irá prevalecer.
Um colegiado inteiro se reúne à toa para escolher o seu representante e a hierarquia nem sempre é obedecida. O menos votado é empossado, ironizando a campanha eleitoral e o envolvimento maciço de uma categoria.
Já testemunhamos um terceiro lugar sendo reitor de universidade pública, para o desencanto de alunos, professores e servidores.
Já testemunhamos o ex-presidente Bolsonaro ignorar o pleito do Ministério Público Federal, a lista da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) com os três nomes favoritos da categoria, e indicar Aras como procurador-geral, que sequer constava entre os mencionados.
Anteriormente, Michel Temer (MDB) optou por Raquel Dodge, que foi a 2ª mais votada pelos procuradores em 2017.
Agora, o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já sinaliza que fará o mesmo e que vai não considerar a lista tríplice como um critério para escolher o novo procurador-geral da República em setembro.
Ou seja, costuma haver uma cortina de fumaça para indicações biônicas, pessoais e antidemocráticas. Cada governante realiza o que quer, à revelia da saúde emocional de cada instituição. A lista tríplice vem sendo uma lista tripartida pela fogueira das vaidades.
Por isso, deve ser saudada a atitude do governador Eduardo Leite, que respeitou a eleição do Ministério Público do Estado e anunciou o promotor de Justiça Alexandre Sikinowski Saltz como o novo procurador-geral de Justiça do Rio Grande do Sul para o biênio 2023-2025. A posse está marcada para hoje (6), às 14h, no auditório Mondercil Paulo de Moraes da sede da Instituição.
Saltz obteve 58% da simpatia dos promotores, o que significa 403 votos válidos, superando Júlio César e Maurício Trevisan.
Existia um burburinho de que teria poucas chances de ser confirmado no cargo, pela sua proximidade no passado com o tenente-coronel Zucco e ex-deputado Onyx Lorenzoni (PL). A ligação com este último foi negada pelo próprio Saltz.
A independência dos Poderes jamais pode ser conspurcada por interesses e benefícios eleitorais. Leite não privilegiou a si, apenas serviu ao propósito de governar para todos, referendando o que havia sido decidido antes, sem passar por cima.
Aceitar é um gesto muito mais corajoso e grandioso do que contestar.
Que sirva como exemplo para a convivência harmoniosa do Executivo com a ordem jurídica, evitando assim que se despreze a quintessência moral da lista tríplice. Porque existiu o esforço e a mobilização de uma comunidade numa eleição prévia, não foi e nunca será um faz-de-conta.