Você é um ano mais velho do que eu, mas estamos naquele período entre o meu e o seu aniversário em que temos quase a mesma idade. São só alguns meses em que posso falar de igual para igual.
Sempre quis ser seu amigo. Não porque você é famoso, mas porque continua simples apesar de mais de 3 milhões de CDs vendidos, mais de 3 milhões de livros vendidos.
Nunca deixará de ser o caçula, a derradeira colheita dos oito filhos do pedreiro Dorinato Bias Silva e da dona de casa Ana Maria de Melo Silva.
O caçula é o que cresce quando todos já cresceram. É o que fica em casa cuidando da mãe quando todos já foram embora. É o que apaga a luz, é o que fecha a porta, é o que vela a vizinhança, é a memória da família.
Só teve direito a um parto natural, o resto foi cesárea, nascendo precocemente de você. Precisou compreender o que é o perdão já no berço, convivendo com o alcoolismo paterno, suportando surtos inesperados de violência, percebendo o quanto o perdão é doloroso para quem dá e para quem recebe, o quanto sempre iria machucar as mãos juntando cacos de uma garrafa quebrada.
Eu vi que você anunciou que está enfrentando uma onda severa de depressão. A humildade permanece como a sua maior coragem.
Você, que é um farol, solicitou a vela da reza de cada um dos seguidores. Depressão não é brincadeira. Tudo é quarto escuro, até o sol, até para o sol.
Vim com minha chama trêmula para expressar o quanto você é importante para si, não só para mim, não só para uma multidão de fiéis.
Suas palavras são mais bonitas do que a sua voz — o que parece impossível a um barítono —, porque existe dentro delas um silêncio aflito, de quem se cura ao curar, de quem se aquece ao acolher.
Você salva, pois vive se salvando todo dia. Não diria que flerta com o abismo, diria que é o próprio abismo gerando respostas.
É como afirma o poeta Friedrich Hölderlin: “onde cresce o perigo, cresce a salvação”.
Você, que é um farol, solicitou a vela da reza de cada um dos seguidores. Depressão não é brincadeira. Tudo é quarto escuro, até o sol, até para o sol.
Unicamente aprendemos a nadar no fundo. Unicamente aprendemos a voar no alto. Unicamente aprendemos a amar na distância do luto.
Homens e mulheres de Deus são justamente as pessoas mais postas à prova pelo destino. Jesus acabou sendo testado no deserto. E não há maior deserto de tentações do que as redes sociais.
Você mantém o menino emocionado da experiência. O menino da transcendência a partir da experiência. Você confia nas histórias que testemunhou, nas crises que experimentou, nas dores que amargou.
É um milagre da saudável alternância confirmado a cada manhã, já que você possui o dom da vulnerabilidade. De amar demais. De ser atento demais. De servir demais. De ouvir demais. E de sofrer sozinho por todos os excessos dados generosamente aos outros.
Não tem como pedir para você viver menos. Não tem como pedir para você diminuir o ritmo.
Como desacelerar um coração? Como recuar uma vocação?
Fábio de Formiga (MG), Fabinho da Escola Estadual Abílio Machado, você foi adulto desde cedo: vendedor de doces, entregador de pão, ajudante de pedreiro e apanhador de café. A pobreza não lhe deu escolha.
Se eu pudesse, eu o chamaria para brincar comigo, para jogar bola, peteca, bilboquê. Não há maior presente para você do que devolver um dia da infância que você não teve.
Chegar aonde chegou é para poucos. Quanto mais longe vamos, mais temos que organizar e aceitar o passado dentro de nós.
Eu apenas queria falar, meu irmão, que está tudo bem quando não está bem. Hoje é sombra, amanhã será luz, as duas jamais se separam.
Abraço,
Fabrício Carpinejar