Em minha primeira festa de aniversário organizada para os amigos, não veio ninguém.
Eu tinha oito anos e era um feriado.
Chamei os colegas da escola e nenhum deles apareceu.
Fiquei esperando no portão das 16h até anoitecer. Morávamos numa esquina. Todo mundo que dobrava a rua acelerava meu batimento cardíaco, podia ser um convidado.
Estava estreando botas ortopédicas e um macacão branco.
Com a lua e as estrelas já despontando no céu, desisti da minha vigília, percebi que não existiria reciprocidade fora de mim.
Engoli o choro, tinha gosto de gripe.
Não conseguia levantar o meu olhar, que se tornou pesado pela vergonha de não ser amado.
Arrasado, via-me excluído das minhas relações mais próximas, desprestigiado, vítima de um bullying silencioso.
Minha esperança foi torturada. Não duvidava de que a turma havia combinado o boicote coletivamente, só para que eu sonhasse alto com as expectativas da casa cheia e, consequentemente, sofresse mais com a queda e as cadeiras vagas ao redor da mesa.
Quando entregara o convite com o meu endereço, cada um dos meus colegas havia confirmado a presença, agradecendo a lembrança com um sorriso. E, nas minhas costas, planejaram uma conspiração de ausências.
O gesto de protesto me dizia claramente que eu não merecia atenção ou destaque nem na data de meu nascimento, que minha aparência não inspirava credibilidade. Que eu deveria recolher a minha insignificância de menino feio e desengonçado, cheio de apelidos, sem companhia para fazer trabalho em grupo. Eu sabia que entraria na sala de aula na manhã seguinte com o pessoal rindo sussurrado do meu vexame. Minha dor ainda se encontrava no seu primeiro capítulo.
Mas, ao voltar para dentro da residência, emburrado, eu vi a minha mãe tão desolada que esqueci o meu sofrimento. Afinal, ela passou noites em claro preparando os docinhos e salgadinhos para atender à criançada. Na véspera, seu maior medo era que as bandejas não fossem suficientes para o tanto de gente.
Eu a abracei e falei:
Arrasado, via-me excluído das minhas relações mais próximas, desprestigiado, vítima de um bullying silencioso.
— Não fique assim, mãe, podemos congelar a torta para o ano que vem.
Você cura a sua tristeza quando se preocupa com a tristeza do outro. É o princípio da volta por cima.
Sua tristeza deixa sua natureza egoísta, ensimesmada, e assume uma condição inesperadamente gentil, cordial, olhando para as lágrimas ao lado.
Mesmo acabrunhado, você se sente capaz de confortar as dores de quem gosta. E seguir adiante. E não se abater por uma situação adversa.
Em vez de se acreditar isolado, isolar a mágoa.
Entender que seu pesar não é exclusivo, muito menos incomum. Que haverá dias ruins e bons, e nenhum deles será definitivo.
Pois, na verdade, você jamais sofre sozinho. A família sempre sofrerá com você.
Naquele momento, eu envelheci um ano e amadureci bem mais do que isso.