Gostamos de visitas que não demoram muito.
Visitas breves e inesquecíveis.
Visitas que não enjoam.
Visitas que criam saudade.
Gaúcho é um bicho esquisito em seu acolhimento. Almoço é almoço, jantar é jantar. Um não pode invadir o outro quando recebe alguém em casa.
Visita no Rio Grande do Sul é como estacionamento. Você passa a pagar o excedente depois de três horas.
A alegria anfitriã logo se converte em rabugice: quando a pessoa irá embora?
Não sei do que temos medo. Talvez receio ancestral de invasão de nossos latifúndios, de que a visita comece a morar conosco e faça um puxadinho se a tratarmos excessivamente bem.
A recepção é escandalosamente afetuosa, a visita é rainha dos nossos olhares no início do papo, mas o nosso comportamento muda e se torna reativo com a permanência por mais de um turno.
O sentimento com o amigo ali conosco é realmente confuso. Você quer até certo ponto, e não quer mais depois.
Se ele parte cedo, ficamos ofendidos. Parece desdém, desprezo, indiferença. Parece que não apreciou ter vindo.
Se ele retarda a sua saída até de madrugada, ficamos preocupados. Será que virou hóspede? Será que terei que providenciar roupa de cama e arrumar o colchão no chão?
Eu descobri tal metamorfose de nosso temperamento com as observações da amiga e psicanalista Diana Corso. Veja se ela não está coberta de razão.
Chega um momento em que você precisa dormir para trabalhar cedo e não sabe como se despedir, porque nada mais depende de seu controle. É o convidado que precisa sair, não você, a casa é sua.
As conversas não têm a mesma profundidade nem igual animação. O tom de voz vai diminuindo do grito para o bocejo.
Você larga o ponto fixo do sofá, a exclusividade da atenção, inventa de responder de pé a qualquer questionamento, deslocando-se entre os aposentos, movimentando-se como se estivesse repentinamente sozinho. Arruma as coisas, lava e guarda a louça, com a esperança de que a visita se toque. Apenas assente com o rosto, não se mostrando mais polêmico e enérgico como antes.
Até recorre a superstições familiares e coloca a vassoura de cabeça para baixo atrás da porta.
A visita não dá sinal de entender. Então, você a critica mentalmente, roga pragas para ela, concluindo que é folgada, que é abusada, que é sem noção, que nunca mais a chamará de volta.
Quando finalmente a visita percebe o fim do expediente amistoso, o término da sua paciência, e se dirige à saída recolhendo os pertences nos ganchos da entrada, quando finalmente a visita professa as palavras mágicas tão aguardadas — “já está tarde!” — em vez de somente concordar, você se culpa por ter pensado mal dela e reage de modo oposto ao que deseja dizendo:
— Ainda é cedo!
Agora levará mais uma hora para ter uma nova chance de despedida.